Serpente que não existe na fauna brasileira é encontrada em SC

Com 1,5 metro, naja, de veneno potente e considerada extremamente agressiva, foi capturada por bombeiros no centro de Balneário Camboriú

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Por Fabio de Castro
Atualização:
O animal foi encontrado em uma subestação de tratamento de águas Foto: Walter José de Borba Netto

Uma serpente naja de cerca de 1,5 metro foi capturada por bombeiros na manhã desta sexta-feira, 10, no centro de Balneário Camboriú, em Santa Catarina. A cobra, que tem veneno potente e é considerada extremamente agressiva por especialistas, é encontrada na sul e no sudeste da Ásia e não existe na fauna brasileira.

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O animal foi encontrado em uma subestação de tratamento de águas da Emasa, empresa de abastecimento do Estado, de acordo com o soldado Walter José de Borba Netto, do Corpo de Bombeiros catarinense, que coordenou a captura do animal.

Segundo Borba, os funcionários da Emasa trabalhavam no local por volta das 10 horas da manhã, quando encontraram a serpente, já em posição de ataque. 

"Eles nos chamaram imediatamente, nós fizemos o isolamento do local e fizemos o procedimento padrão de captura, utilizando um garrote específico para ofídios. Ao consultar o manual dos bombeiros, vimos que se tratava de uma naja - e nos chamou a atenção o fato de que ela não está no cadastro nacional", disse Borba ao Estado.

De acordo com Borba, a cobra estava extremamente agitada e estressada. "É uma cobra cuspideira. Ela consegue lançar o veneno a mais de um metro de distância e é extremamente perigosa. Sua peçonha é potente o bastante para matar um elefante", afirmou.

Com grande dificuldade, o animal foi coletado em um recipiente apropriado, segundo Borba, por bombeiros equipados com roupas especiais, e depois foi entregue aos cuidados de biólogos do zoológico Santur, também em Balneário Camboriú. 

"O animal é lindo, mas se mostrou muito arisco - e essa espécie está entre as 10 cobras mais venenosas do mundo. A captura não é trivial e tivemos alguma dificuldade, pois nosso garrote não estava calibrado para ela. Ela inflava o pescoço e fazia seu som característico, parecendo bufar. Foi bastante interessante", declarou Borba.

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Outro fator que dificultou a captura é que o protocolo de segurança para a manipulação de ofídios exige que se tenha o soro antiofídico, mas, como a naja não existe no Brasil, não há soro para ela no País. "Fizemos a captura com muito cuidado e respeito, para não estressar mais o animal, que tem uma imagem muito estigmatizada na nossa sociedade", declarou.

Borba contou que, já à primeira vista, a coloração amarelada da serpente indicava que ela seria proveniente de áreas mais secas, sem a camuflagem típica das cobras que vivem na Mata Atlântica. "É um crime ambiental muito sério, principalmente porque ela estava no ambiente urbano. Se ela viesse a morder alguém, com certeza causaria óbito. As pessoas não têm noção da irresponsabilidade que é trazer um animal assim para o Brasil", afirmou. 

Milagre. O ambientalista Alexandre Medeiros, conselheiro do plano gestor da Área de Preservação Ambiental da Costa Brava, em Santa Catarina, disse que a serpente foi identificada como pertencente à espécie Naja kaouthia. 

"É uma cobra com comportamento bastante agressivo e uma peçonha muito potente. Ela é tão agressiva que não pode ser capturada com garrotes normais - o correto é o uso de pinças. Podemos dizer que os bombeiros fizeram um milagre", afirmou.

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Segundo Medeiros, existe a possibilidade de que a cobra tenha entrado no País embarcada em um navio, mas ela também pode ter sido trazida ilegalmente para criação. "Ela pode ter escapado, ou pode ter sido abandonada de forma criminosa", disse o ambientalista.

"Nosso maior temor é que outros exemplares tenham sido abandonados em áreas de Mata Atlântica e que venham a se reproduzir por aqui, o que causaria um grave desequilíbrio ambiental, já que não temos predadores de najas no Brasil", explicou.

Segundo Medeiros, um herpetologista - especialista em répteis e anfíbios - será chamado para avaliar o animal e decidir qual será seu destino. "Esperamos que ela seja encaminhada ao Instituto Butantã, em São Paulo, pois lá eles têm cerca de 30 exemplares dessa espécie", disse.

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