Queima de todo combustível fóssil da Terra elevaria nível do mar em 60 metros

Estudo publicado na Science Advances mostra que consumo de todo petróleo e carvão disponível derreteria todo o gelo da Antártica

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Por Fabio de Castro
Atualização:

Se todo o combustível fóssil restante hoje no planeta fosse queimado, o gelo da Antártica derreteria completamente, fazendo o nível do mar subir até 60 metros nos próximos milhares de anos. A conclusão é de um estudo realizado por uma equipe internacional de cientistas e publicado ontem na revista Science Advances

Segundo os autores da pesquisa, atualmente mais de um bilhão de pessoas vivem em cidades nas áreas próximas ao litoral, que ficariam totalmente submersas com tamanha elevação do nível dos oceanos.

 

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"Nosso estudo revela que, se não quisermos derreter a Antártica, não podemos simplesmente continuar tirando o carbono dos combustíveis fósseis do subsolo para jogá-lo na atmosfera em forma de CO2, como temos feito", afirmou um dos autores do estudo, Ken Caldeira, do Carnegie Institution, nos Estados Unidos.

"A maior parte dos estudos sobre a Antártica se concentrou apenas na redução do Manto de Gelo da Antática Ocidental. Nosso estudo demonstra que queimar o carvão, o petróleo e o gás também coloca em risco de redução o Manto de Gelo da Antártica Oriental, que é muito maior", afirmou Caldeira.

"A ideia da pesquisa era computar o que já desencadeamos emitindo gases de efeito estufa a partir da queima de carvão e petróleo - e analisar onde isso irá nos levar no futuro", disse o cientista. 

Segundo ele, queimar todas as reservas de combustíveis fósseis corresponderia a emitir cerca de 10 trilhões de toneladas de carbono. "As simulações mostram que, com isso, a Antártica iria perder cobertura de gelo por pelo menos dez mil anos, com um aumento médio do nível do mar de até três metros por século no primeiro milênio", disse Caldeira.

 

Degelo irreversível. Os novos cálculos feitos pelos pesquisadores mostram que a contribuição da Antártica para a subida do nível do mar provavelmente não passaria de poucos metros - o que permitiria medidas de gerenciamento -, caso o aquecimento global não passe de 2 graus Celsius. 

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Mas se esse limite for ultrapassado, a longo prazo o derretimento do gelo iria desestabilizar tanto o oeste como o leste da Antártica, levando a elevação do nível do mar a dar novas formas às regiões costeiras nos próximos milênios.

"Se nós queimássemos todas as reservas de combustíveis fósseis que estão hoje acessíveis, isso eliminaria o manto de gelo da Antártica, levando, a longo prazo, a um aumento do nível do mar sem precedentes na história da humanidade", disse a autora principal do estudo, Ricarda Winkelmann, do Instituto Potsdam de Pesquisa em Impactos Climáticos, na Alemanha.

"Isso não aconteceria da noite para o dia, mas o problema é que nossas ações hoje estão transformando a Terra em algo bem diferente do que conhecíamos - e isso vai continuar nas próximas dezenas de milhares de anos. Se quisermos evitar uma Antártica sem gelo, precismos deixar o carvão, o gás e o petróleo onde estão, nas profundezas da terra", declarou Ricarda.

De acordo com o artigo, o Manto de Gelo da Antártica Ocidental já entrou em um estado de "perda de gelo irreversível", seja como resultado de atividades humanas ou de outros fatores. Caso o mesmo aconteça com a parte oriental do continente gelado, a elevação dos mares poderá deixar submersas cidades como Rio de Janeiro, Tóquio, Nova York, Xangai e Calcutá.

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