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Peixe venenoso pode render antiasmático para grávidas

Trecho de proteína do niquim apresenta propriedades antiinflamatórias

Por Giovana Girardi
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Um veneno, que em sua ação natural provoca dor, edema e até necrose, pode se tornar um antiasmático inovador nos próximos anos. Essa é a aposta de um grupo de pesquisadores do Instituto Butantã, que trabalha com o peçonhento niquim (Thalassophryne nattereri), peixe bastante conhecido nas regiões Norte e Nordeste por seu potencial de causar acidentes. Veja também: Especial completo sobre biodiversidade Biodiversidade, essa desconhecida Droga contra câncer em teste Estudos focam doenças tropicais Para vasculhar a Amazônia, quanto mais coleta, melhor Múltiplas ações na vegetação paulista O duro caminho até a indústria Remédios que vêm das toxinas Reinventar relações respeitosas Proposta de nova lei segue sem acordo Natureza inspiradora A equipe originalmente observou que um peptídeo (trecho de proteína) presente no veneno continha propriedades antiinflamatórias.Após dois anos de desenvolvimento, os pesquisadores perceberam que a ação contra alergias respiratórias é a mais promissora, em especial contra asma. "Nossa intenção é desenvolver uma droga que possa ser consumida por outras vias que não as áreas. Visamos a aplicação para dois grupos de risco, mulheres grávidas e crianças", conta Mônica Lopes Ferreira, líder do projeto, que conta com o apoio do Centro de Toxicologia Aplicada (CAT). Mais do que isso ela não informa, por causa do sigilo com a indústria farmacêutica - a maior parte do financiamento da pesquisa vem da empresa Cristália. Ela só adianta que foram produzidos 12 sintéticos menores do que a molécula original, a fim de baratear sua replicação. Um deles foi eleito o melhor, por ser de fácil síntese e ter demonstrado uma eficácia tão boa quanto a do peptídeo original. Agora a molécula está sendo testada em animais. A experiência com o niquim levou o grupo a estudar outros peixes peçonhentos encontrados no Brasil: as arraias (gênero Potamotrygon), o bagre de mar (Cathorops spixii) e o de rio (gênero Psedoplatystoma) e o peixe-escorpião (Scorpaena plumieri). As pesquisas com essas toxinas, no entanto, não estão tão avançadas quanto com a do niquim. Nesse meio tempo, Mônica tenta encontrar uma forma de tratar os dolorosos acidentes provocados pelos peixes. Sua equipe está desenvolvendo um soro poliespecífico com o veneno dos quatro peixes, que pode servir para eles, mas também outra espécies dos mesmos gêneros.

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