Negociadores se apressam para chegar a acordo climático

Ministros querem destravar discussões para, a partir desta quarta-feira, chefes de Estado concluírem tratado

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Por Eric Brücher Camara
Atualização:

Faltando apenas quarto dias para o fim da conferência das Nações Unidas sobre mudança climática, negociadores de 192 países correm contra o relógio para chegar a um acordo, depois de um começo de semana tenso, que levou até à suspensão temporária da reunião.

 

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Consultas informais entre os ministros que chefiam as delegações vão tentar desentravar as negociações tanto por um acordo que inclua os Estados Unidos como pela extensão do Protocolo de Kyoto, também a partir de 2012. Na quarta-feira começa, os ministros darão espaço aos chefes de Estado que começam a chegar nesta terça-feira, entre eles, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown. Por isso, as negociações desta tarde serão decisivas. No primeiro dia da semana final da conferência, representantes de delegações africanas abandonaram as seções de negociação, o que levou à suspensão temporária, por cerca de cinco horas, da reunião. Insatisfeitos, representantes do grupo G77/China, que inclui o Brasil, a Índia, a África do Sul, a China e vários dos países mais pobres do mundo, exigiram que as negociações não se concentrassem exclusivamente em um novo acordo, como grande parte dos países ricos vinham defendendo, mas sim, em uma extensão do Protocolo de Kyoto. 'Balde de água fria' Nas palavras da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, a iniciativa foi "um balde de água fria sobre manipulações" que estariam ocorrendo nas reuniões. "Hoje (segunda-feira), essa história de fazer um acordo só quase deu uma revolução. Se respeitar os dois caminhos, tudo é possível. Se não respeitar os dois caminhos, não vai chegar a nada", disse Dilma à BBC Brasil. O chamado Plano de Ação de Bali, fechado na conferência da ONU de 2007, previa negociações paralelas em dois "trilhos", que poderiam ou não se encontrar em Copenhague. Alguns países em desenvolvimento temem que, ao abandonar Kyoto, os países industrializados driblem compromissos já assumidos - como a redução de emissões de gases que provocam o efeito estufa em 5,2% em relação a 1990 até 2012 - e ao mesmo tempo queiram cobrar mais dos países emergentes. Do ponto de vista dos industrializados, existe o medo de assumir novos compromissos sob Kyoto que podem pesar na economia, enquanto os Estados Unidos - que não ratificaram o protocolo vigente - escapariam mais uma vez. O negociador-chefe americano brincou sobre o assunto nesta segunda-feira, ao afirmar que este é o único assunto polêmico que não envolve o país. 'Violação da democracia' A notícia do protesto africano agitou o Bella Center na segunda-feira. Do lado de fora, milhares de pessoas ainda tentam entrar no centro de convenções onde o encontro acontece em Copenhague. O representante sudanês do bloco G77, embaixador Lumumba Di-Aping, criticou duramente a ministra para Energia e Meio Ambiente da Dinamarca, Connie Hedegaard, que preside a conferência. "A presidente da está totalmente comprometida com a violação de quaisquer processos democráticos", afirmou. Hedegaard, que nos próximos meses vai assumir o recém-criado cargo de Comissária para Clima da União Europeia, se disse "surpresa" com a ação e afirmou que em reuniões no domingo deu ao G77 "diversas garantias" de que as negociações sobre Kyoto não iriam ser deixadas de lado. Otimismo Apesar do clima pesado que se instalou na conferência nesta segunda-feira, a ministra Dilma Rousseff afirmou à BBC Brasil que "sente um posicionamento extremamente favorável". "Em que pesem as reivindicações, as divergências sobre a condução dos trabalhos, em todos eles (países do G77/China) eu senti um interesse legítimo em fazer com que a conferência dê um resultado positivo, concreto, com metas robustas", afirmou. Segundo Dilma, a postura dos países desenvolvidos é igualmente positiva. "Conversei longamente com o ministro francês, vejo da parte dele o mesmo empenho, a mesma abertura." A conferência das Nações Unidas sobre o clima vai até sexta-feira na capital da Dinamarca. Nos próximos dias, a cidade deve receber líderes de mais de 130 países, entre eles, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente americano, Barack Obama, e outros.

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