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Na Antártida, pesquisadores torcem por acordo em Copenhague

Por PAULINE ASKIN
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Navegando por mares turbulentos na direção da Antártida, nesta segunda-feira, o capitão Benoit Hebert antevê o perigo dos icebergs. É que esses gigantescos blocos de gelo têm sido vistos flutuando centenas de quilômetros ao norte do continente, num sinal do acelerado degelo da Antártida Oriental, por causa da mudança climática global. Mas o pensamento de Hebert estará voltado também para uma reunião oficial no outro lado do mundo, em Copenhague, onde ele espera que os líderes mundiais concordem em reduzir drasticamente as emissões globais de gases causadores do efeito estufa. "Como todo mundo, eu gostaria de ver os grandes países industrializados, como os EUA, reduzirem suas emissões de CO2 (dióxido de carbono)", disse Hebert à Reuters na ponte de comando do seu navio de pesquisas, em direção à baía Commonwealth, na Antártida. Hebert há mais de 15 anos percorre os oceanos glaciais em torno da Antártida e do Ártico, e pela primeira vez está vendo os efeitos do aquecimento. "A mudança climática é bem mais visível no norte, no Ártico, do que na Antártida. O Ártico é composto por uma capa de gelo que está derretendo", disse ele. A comissão científica da ONU diz que a cobertura de gelo sobre o oceano Ártico durante o verão atinge atualmente apenas metade da extensão de 1950. O Ártico se aquece ao triplo do ritmo médio do planeta, e dentro de 20 anos não deve mais ter gelo no verão, segundo pelo menos um cientista britânico. Já a Antártida Oriental perdeu entre 5 e 109 bilhões de toneladas de gelo por ano entre abril de 2002 e janeiro de 2009, mas o ritmo se acelerou a partir de 2006, segundo cientistas da Universidade do Texas. Apesar disso, Herbert está confiante de que o gelo do continente austral sobreviverá. "Não notei nenhum aumento no degelo durante o tempo em que navego nesta rota", disse ele. "Tudo o que os cientistas sabem é que a capa de gelo no Ártico desaparecerá muito em breve. Já a Antártida é gelo de água doce, é um continente enorme. Não acho que a Antártida seja uma ameaça." Alexandre Trouvilliez, engenheiro especializado em hidrologia ambiental, vai à Antártida medir e quantificar a neve que sopra e se desloca à deriva, para estimar a massa de gelo na superfície. Ele está otimista de que o evento de Copenhague resultará em medidas concretas contra o aquecimento, inclusive com a adesão de vários países que não participam do atual Protocolo de Kyoto, como EUA e China. "Acho que um dos maiores avanços será que países emergentes como a China participem e façam grandes avanços. A China é o maior emissor de gases CO2", disse ele. "Espero que o resultado seja a redução dos gases CO2 e metano."

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