Música de Bob Dylan será hino não-oficial de Copenhague

ONU usará canção que fala em florestas tristes, oceanos mortos e onda que poderia afogar o mundo inteiro.

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Por Barbara Plett
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O músico Bob Dylan - ou pelo menos uma de suas canções - será um dos destaques na conferência sobre mudanças climáticas em Copenhague. A ONU adotou a canção A Hard Rain's A Gonna Fall (Uma Chuva Dura Irá Cair, em tradução-livre), como seu hino não-oficial para as negociações. Essa é uma música mais conhecida como um canal para os temores de uma geração que vivia sob a ameaça de uma guerra nuclear. Dylan a apresentou pela primeira vez em 1962 no alto da guerra Fria, pouco antes que um plano soviético de colocar mísseis atômicos em Cuba gerasse uma crise entre os Estados Unidos e a União Soviética. Mas Hard Rain envelheceu bem, e agora está sendo invocada para destacar os temores que esta geração tem de uma calamidade ambiental. Isso atesta para o poder universal e duradouro das letras de Dylan, segundo David Frickle, editor da revista Rolling Stone em Nova York. "Deixe-me apenas citar alguns versos e veja se parecem familiares", diz. "I've stepped in the middle of seven sad forests; I've been out in front of a dozen dead oceans; I heard the roar of a wave that could drown the whole world" ("Eu pisei no meio de sete florestas mortas; Eu estive diante de uma dúzia de oceanos mortos; Eu ouvi o rugido de uma onda que poderia afogar o mundo inteiro", em tradução-livre). "O que disto não reconhecemos? Todas aquelas imagens e cenários que as palavras formam são tão familiares quanto a reportagem de um canal de TV a cabo de um minuto atrás!" A canção inspirou várias versões de outros músicos. E também inspirou um fotógrafo ambiental da ONU, Mark Edwards. A odisséia Hard Rain dele começou em 1969, quando foi resgatado por nômades Tuareg depois de se perder no deserto do Saara. "Meu salvador esfregou dois gravetos juntos", lembra Edwards. "Ele fez fogo e nós tomamos uma agradável xícara de chá. Ele então ligou seu velho toca-fitas e Bob Dylan cantou 'A Hard Rain's A Gonna Fall". "Eu fiquei fascinado pela letra, e decidi ilustrar cada verso da canção. Nos anos que seguiram, eu fui adicionando fotos à medida que as vi." Ceticismo A ONU está exibindo o trabalho do fotógrafo durante a conferência de mudanças climáticas, acompanhado do lançamento de uma rara gravação de Bob Dylan tocando sua música, que a organização está usando como sua trilha sonora não-oficial do evento. "O que a exposição faz, e o que a letra de Dylan nos permite fazer, é ilustrar nossos problemas globais", disse Edwards. "Pobreza, expansão populacional, poluição convencional. Se quisermos resolver as mudanças climáticas, se realmente quisermos lidar com essa enorme questão, temos que ver sua totalidade, responder ao problema em totalidade", disse. Outros estão menos entusiasmados, incluindo Max Schulz, um especialista em energia na organização Manhattan Institute. Ele está cético em relação às previsões catastróficas sobre as mudanças climáticas, e também é um fã de Bob Dylan que acredita que a ONU está explorando uma ótima música para seus próprios e estreitos objetivos. "A idéia de que a ONU está agora pegando uma música de Bob Dylan e a tornando um hino de Copenhague me parece boba", afirmou. "E tentar usar o alarmismo ambiental da questão me parece duplamente bobo. Não está claro com base em nada do que sabemos sobre a música que ela tem nada a ver com prejuízos ambientais ou destruição. É uma canção bizarra, impenetrável." Mas, independentemente do que Bob Dylan quis ou não dizer, A Hard Rain's A Gonna Fall claramente continua a ser uma denúncia, segundo David Fricke, e um sério alerta aos líderes de hoje. "Ela mostra que se não enfrentarmos as coisas, a chuva dura não irá apenas cair, mas já vem caindo e não estamos prestando atenção", disse ele. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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