Mudar hábitos é a única saída

Organizadas em função dos automóveis, cidades precisam de outro planejamento

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Por Redação
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Hoje, o Brasil tem 1 carro para 4,4 habitantes; há dez anos, a proporção era de 1 automóvel para 7,4 brasileiros Foto: Tiago Queiroz/Estadão

SÃO PAULO - O mundo está entrando na era antropocênica, segundo cientistas. A interferência do homem no meio ambiente foi tão grande que, pela primeira vez, ele alterou o clima do planeta. Ninguém sabe responder como o planeta vai conviver com 4°C a mais na temperatura no fim do século. Acabou a época das reclamações. “Não podemos mais viver das discussões dos problemas, precisamos partir para as soluções o mais rápido possível”, diz o economista Ricardo Abramovay, um dos debatedores do Fórum Estadão Brasil 2018 de Meio Ambiente. “Não dá para enxergar o meio ambiente como pedaços fragmentados. As chuvas do Sudeste e as geleiras dos Andes dependem da Amazônia.” O Brasil precisa mudar a forma de viver, de produzir e de pensar a economia. Foi esse o recado dos especialistas que se apresentaram na última quinta-feira, no Insper, na Vila Olímpia, zona sul de São Paulo. Hoje, o Brasil tem 1 carro para 4,4 habitantes. Há dez anos, a proporção era de 1 automóvel para 7,4 brasileiros. “As cidades estão desfiguradas pelo automocentrismo”, diz Abramovay. Pesquisa realizada pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) aponta que 40% de tudo que se constrói em São Paulo têm como objetivo armazenar automóveis. O excesso de veículos, um dos principais responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa, é grande agravante para o problema do aquecimento global e das mudanças climáticas. A indústria automobilística tende a investir em novas tecnologias – que podem transformar o carro em uma plataforma compartilhada e capaz de produzir informações para melhor orientar o planejamento urbano. Carros elétricos e mais recentemente os chamados híbridos, já se transformaram em realidade em montadoras como Toyota e Fiat, porém ainda não possuem preços competitivos para o mercado. “Mas a ideia não é que o carro elétrico substitua os que temos nas ruas. Isso seria inconcebível”, diz Abramovay. A ideia é que o carro seja um produtor de informação compartilhada.Compartilhamento. Mercedes-Benz, Volkswagen, Ford e Renault são algumas das montadoras que dão suporte para o car sharing, projeto europeu de compartilhamento de carro alugado, que ficou popular em 2010 pela facilidade que as tecnologias de conexão, como as redes sociais, permitem que várias pessoas usem o mesmo carro. Calcula-se atualmente 3 milhões de usuários. Até 2020, a expectativa é que esse número aumente em mais de oito vezes. “Investimento em bens e serviços públicos e coletivos apoiados em mídias digitais podem ser alternativa para esses modelos predatórios”, afirma o economista. A sociedade, que consome ainda indiscriminadamente, precisa se engajar. “Existe uma desconexão entre percepção de risco e a variabilidade ambiental. A mudança comportamental ainda é muito incipiente”, afirma Patrícia Pinho, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). De acordo com a pesquisadora, os grupos precisam se organizar para criar alternativas coletivas, como sistemas de carona dentro de um mesmo bairro. “O que está em jogo é a sobrevivência e a qualidade de vida, não só a renda”, diz ela. O recado: sem planejamento sustentável, as cidades entrarão em colapso. 

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