Os dois principais documentos da Conferência do Clima da ONU (COP-17) apresentados na sexta-feira, 9, em Durban foram criticados por muitos ministros que participam das negociações por um acordo climático pela baixa ambição que apresentavam. Os representantes dos Estados-ilha eram os mais descontentes. No início da noite, a presidente da COP-17, a sul-africana Maite Nkoana-Mashabane, resolveu recolher os documentos para reformá-los - o que foi sugerido pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. A reunião para avaliação dos textos, com cerca de 70 ministros, continuaria na madrugada de sábado, 10. Um dos documentos diz respeito à criação da segunda fase do Protocolo de Kyoto. O primeiro período de compromisso termina em 2012 e, para os países em desenvolvimento, é fundamental deixar Durban com a continuidade do tratado garantida. Mas o documento não trazia, por exemplo, os números das metas que os países teriam para cortar as emissões dos gases-estufa, considerados responsáveis pelas mudanças climáticas. Um delegado de país em desenvolvimento considerava que ainda era possível incluir esses números no texto, o que o deixaria mais ambicioso. Antes de ser refeito, o documento somente convidava as partes a submeterem suas metas até o dia 1.° de maio de 2012. A continuação do protocolo foi apelidada de “Kyotinho”, pois países como Japão, Rússia e Canadá afirmam que não farão parte da segunda fase. União Europeia, Austrália e Nova Zelândia devem se comprometer. O segundo documento trata das ações de longo prazo contra as mudanças climáticas. A avaliação era que o texto precisava ser mais claro com relação a datas, entre outros problemas. Pacote. O objetivo é fechar um pacote na COP-17 com o segundo período de Kyoto e também um roteiro para um novo acordo global, com força de lei e a participação de todos os países. A ideia partiu da União Europeia e foi ganhando ao longo da semana cada vez mais adeptos: primeiro os Estados-ilha, vulneráveis à subida do nível do mar; depois os países menos desenvolvidos, como Brasil e a África do Sul, que ontem apoiavam claramente a proposta. Mas, segundo Connie Hedegaard, comissária da União Europeia para Ação Climática, ainda faltava um avanço maior por parte da China, da Índia e dos Estados Unidos. A Índia foi colocada contra a parede ontem porque o país está relutante em aceitar o fato de ter metas obrigatórias de corte de emissões. Mas a ministra Jayanthi Natarajan acabou sendo aplaudida pelos ministros depois de fazer um discurso forte, mencionando que o país ainda cerca de 450 milhões de pessoas sem acesso à energia. Assim que a reunião foi suspensa, ela disse que não sabia qual seria o resultado e que era preciso “conversar mais”. Quando a China e a Índia confirmarem sua participação, os EUA não terão mais desculpas para não agir. A expectativa é de que o resultado será alcançado nesta conferência. Se isso ocorrer, a principal vitória de Durban será colocar os dois maiores emissores de gases-estufa - os EUA e a China - no mesmo barco. Os dois países, assim como o Brasil, terão metas obrigatórias de corte de emissão na próxima década. Até 2020, os países em desenvolvimento e os Estados Unidos, que não fazem parte do Protocolo de Kyoto, cumprirão as metas voluntárias que incluíram no Acordo de Cancún e no Acordo de Copenhague.