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Isolamento cria poupança de peixe

Experiência pioneira isola área dentro de unidade de uso sustentável e promove proliferação de animais

Por Giovana Girardi
Atualização:

O ponto, conhecido como Ilha da Barra, passou a ser monitorado diariamente, assim como recifes vizinhos, para checar os efeitos do isolamento na comparação com o uso contínuo. Após 13 anos, a experiência mostra bons resultados. E, se sozinha não foi capaz de aumentar os estoques de peixes a ponto de atender a todos os pescadores, já serve de modelo para ser replicado.Coral-de-fogoSegundo Maida, houve uma recuperação de 90% da cobertura viva dos recifes da área fechada, principalmente pelo coral-de-fogo Millepora alcicornis, que é uma espécie de rápido crescimento. O tempo ainda é curto para a observação de outras espécies que possam estar repovoando o local. Algumas crescem à lenta velocidade de 3 a 4 milímetros por ano – contra 10 centímetros do coral-de-fogo.Outro sinal de melhora é a diminuição de ouriços do mar, um indicador de estresse ambiental. Quando os corais morrem, eles ocupam os recifes e vão raspando o substrato para se alimentar de algas, o que deixa a estrutura cheia de buracos. "Quando a Ilha da Barra foi fechada, a abundância de ouriços era, em média, de 60 indivíduos por metro quadrado. O recife estava sendo erodido. E, se ele reduz muito de tamanho, perde a função de proteger a costa das ondas", diz Maida. Com o isolamento, populações de peixes e lagostas voltaram a crescer na área, controlando a população de ouriços, que caiu para 4 por metro quadrado, o que deu espaço para os corais reocuparem os recifes. Também há, em média, seis vezes mais lagosta dentro que fora e quatro vezes mais polvos.É a mesma abundância média verificada entre peixes, sendo que para algumas espécies a vantagem passa de dez vezes dentro da Ilha da Barra, segundo Beatrice. Ela está finalizando também dados sobre aumento da biomassa, em artigo que vai analisar dez anos de monitoramento. "O aumento de indivíduos por metro quadrado foi rápido, progressivo e então se estabilizou, até porque a área é limitada. Mas o aumento da biomassa, que é o peso dos bichos, é contínuo", afirma a pesquisadora."Hoje, quando um pescador pega um polvo grande, de 1 kg, 1,5 kg, sabe que ele vem da área fechada. Do lado de fora, já vi um pescador pegar um polvo de 12 gramas", acrescenta Maida.A tridimensionalidade do ambiente forma uma estrutura ideal para os animais crescerem. Vários peixes passam ao menos uma etapa do seu ciclo de vida abrigados pelos recifes. Se o local fica muito degradado, os peixes não têm onde ficar. Por isso a reserva funciona como um banco de peixes. Se eles têm tranquilidade para ficar no local crescendo, quando saem para povoar outros locais, estão maiores.Alguns pescadores já perceberam essa melhoria e começaram a se posicionar no entorno da Ilha da Barra, esperando pegar os animais no transbordo, diz Maida. Questionado se os peixes lá sabem qual é a fronteira e a hora certa de sair, ele arremata com uma história de pescador. "A área fechada está cheia de tainha. Os pescadores ficam com as redes do lado de fora, esperando. Pois eles contam que a tainha chega à borda, olha e volta. O peixe sabe!", brinca.*Repórter e fotógrafo viajaram a convite da SOS Mata Atlântica

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