ENTREVISTA-Enviado britânico critica plano da ONU para florestas

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Por GERARD WYNN
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O plano dos países tropicais sobre proteger suas florestas por meio de um pacto mundial de combate às mudanças climáticas é falho e corre o risco de ser rejeitado pelos eleitores das nações ricas, afirmou à Reuters o principal conselheiro do governo britânico a respeito da preservação das matas. A derrubada de florestas para abrir campos de cultivo nos países em desenvolvimento emite cerca de um quinto dos gases do efeito estufa responsabilizados pelas mudanças climáticas. As árvores armazenam dióxido de carbono (um desses gases) enquanto crescem e liberam-no quando apodrecem ou quando são queimadas. "Eu acho que há muitas falhas no modelo imaginado para evitar o desmatamento e que a Organização das Nações Unidas (ONU) deseja usar", afirmou Barry Gardiner, enviado especial do primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, para a questão das florestas. Os grandes países tropicais que registram uma alta velocidade de desmatamento, em especial a Indonésia, argumentam que as árvores fornecem um benefício global ao brecar o aquecimento da Terra. Esses países vêm defendendo receber algum tipo de pagamento para proteger suas matas como parte de um novo acordo da ONU para enfrentar as mudanças climáticas. No entanto, entre os problemas desse esquema, encontra-se a dificuldade em calcular o desmatamento futuro e, assim, o montante a ser pago pela "derrubada das árvores que se evitou". "Dizer que eu vou pegar os impostos que alguém pagou e que vou dar o dinheiro para outros países porque eles não fizeram o que teriam feito caso não recebessem esses montantes segundo prevê um modelo hipotético... Isso para mim não soa como um bom argumento", afirmou Gardiner. Quase todos os países envolvido nas polêmicas negociações da ONU sobre o clima realizadas em Gana, no mês passado, manifestaram apoio à inclusão de formas para evitar o desmatamento em um novo pacto da ONU previsto para ser concluído até o final de 2009, quando então seria assinado, em uma cúpula marcada para acontecer em Copenhague. Em vez disso, Gardiner propôs que os países ricos façam pagamentos aos países tropicais com base no tamanho das florestas ainda de pé. Se esses países continuarem a extrair madeira ou a realizar queimadas, então poderiam ser expulsos do esquema. "Haveria assim uma relação muito simples, muito positiva e muito direta entre o pagamento e as florestas, entre o produto e o pagamento pelo produto", afirmou. "As árvores desempenham um papel no mundo, o de capturar carbono, e as pessoas pagariam por isso." As negociações da ONU sobre a conservação giram em torno de brecar o desmatamento e pouco avançaram nos esforços para encontrar incentivos a fim de recompensar os países que protegem suas matas. Caso não haja mudanças, esses países podem ficar sem incentivo nenhum ou, até mesmo, sentirem-se instados a extrair madeira novamente a fim de aumentar o suprimento do produto. "Eu não quero culpar o Brasil ou a Indonésia por defenderem seus interesses nacionais, isso é inevitável. O que estou tentando avaliar é um modelo que funcione também para o Gabão, o Equador etc", afirmou Gardiner. (Reportagem de Gerard Wynn)

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