ENTREVISTA-Ciência, não política, deve nortear reunião de Durban

PUBLICIDADE

Por FRANK JACK DANIEL
Atualização:

As discussões sobre as mudanças climáticas devem deixar de lado as brigas políticas e se concentrar na crescente ameaça decorrente do aquecimento global, como forma de avançar rumo a um acordo que limite as emissões de gases do efeito estufa, segundo o chefe da comissão climática da ONU. Negociadores de quase 200 países se reúnem a partir de segunda-feira em Durban, na África do Sul, para duas semanas de discussões. Há poucas esperanças de avanço rumo a um acordo que obrigue as principais economias do mundo a limitarem suas emissões. A busca pelo novo tratado que substitua o Protocolo de Kyoto a partir de 2013 já esbarrou em divergências entre nações desenvolvidas e emergentes nas reuniões dos anos anteriores, em Copenhague e Cancún. Rajendra Pachauri, chefe do Painel Intergovernamental para a Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês, um órgão científico da ONU) alertou para o risco de a discussão ser novamente prejudicada por "considerações políticas estreitas e de curto prazo." "É absolutamente essencial que os negociadores tenham uma exposição continuada e repetida à ciência da mudança climática", declarou ele à Reuters na noite de terça-feira. "Se fizéssemos isso, certamente haveria um impacto sobre a qualidade e o resultado das negociações, afinal são todos seres humanos, têm famílias, são gente também preocupada com o que vai acontecer nas próximas gerações." Na sexta-feira, o IPCC divulgou um relatório dizendo que um aumento nas ondas de calor é quase certo, e que provavelmente ocorrerão também mais chuvas, inundações, ciclones, deslizamentos de terra e secas intensas ao longo deste século. "Tenho medo de que a forma como tudo está estruturado perca de vista essas realidades", disse o cientista indiano, ganhador do Nobel da Paz em 2007. Ele indicou estar de acordo com a posição dos países em desenvolvimento, que alegam não poder realizar cortes tão drásticos nas suas emissões de carbono quanto as nações desenvolvidas, devido à sua necessidade de se industrializar e combater a pobreza. "Quando você tem 400 milhões de pessoas sem acesso a eletricidade, dá para no século 21 lhes negar a própria base daquilo que o resto do mundo tem vivido nos últimos 150 anos?", disse Pachauri, referindo-se à Índia. A cada cinco ou seis anos o IPCC divulga relatórios elaborados a partir do trabalho de milhares de cientistas, e que deveriam servir de base para as discussões dos governos. Céticos, no entanto, questionam os dados nesses estudos. Pachauri disse ainda que será difícil, mas não impossível, que o mundo consiga cumprir sua meta de limitar o aquecimento global a 2C.

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.