Energia solar ajuda a manter cultivo de uvas no deserto do Atacama

Na região mais seca do planeta, no norte do Chile, parreiras são cultivadas com energia solar e reserva de água subterrânea

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Por Katia Moskvitch
Atualização:

Uma parceria entre uma das maiores produtoras de frutas frescas do Chile e uma companhia de energia renovável alemã resultou no uso de energia solar para irrigar parreiras no deserto do Atacama, um das regiões mais secas do planeta. "Queríamos aproveitar a oportunidade que o deserto de Atacama oferece", afirmou José Miguel Fernandez, da companhia produtora de frutas Subsole, enquanto caminhava entre os painéis solares. "Este projeto está de acordo com nosso compromisso com o ambiente para as gerações futuras e é uma forma de fazer com que outros produtores de frutas nos sigam", disse. Os painéis para capturar a energia solar estão instalados no Vale de Copiapó, em uma área pequena que parece perdida em meio às colinas e montanhas do Atacama. A região é um oásis verde no deserto e as parreiras da Subsole são cultivadas graças às reservas subterrâneas de água. As bombas de água do sistema de irrigação dessas plantações é movida por eletricidade gerada pelos painéis solares, que se aproveitam da fartura de luz existente na região norte do Chile. O Atacama é considerado o deserto mais seco da Terra, com os mais altos níveis de luz solar do mundo. As nuvens aparecem apenas cerca de 30 dias por ano e área para instalação dos painéis não falta. No entanto, painéis para captação de energia solar não são comuns na região.

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Capacidade

A capacidade de geração de energia é de apenas 300 kWp (kilowatt-pico) - o bastante para gerar energia para um prédio de 20 andares. Mas, Roberto Jordan, da subsidiária chilena da companhia de energia renovável alemã Kraftwerk, afirma que eles são os primeiros a trabalhar com uma instalação de tamanho industrial em todo o deserto do Atacama.

Para Jordan, o deserto é capaz de produzir muito mais energia.

"Há sol o bastante, há terra o bastante, então devemos mesmo explorar mais", disse.

Protestos

Apesar de todo o potencial do Atacama, apenas 4% da energia elétrica consumida pelo Chile vem de fontes renováveis, tais como a energia solar, geotermal, eólica e das ondas do mar. Combustíveis fósseis importados, por sua vez, são usados em 60% da produção de energia elétrica do país. O restante é suprido por usinas hidrelétricas. O anúncio feito pelo governo no ano passado de que cinco novas usinas hidrelétricas seriam construídas na região da Patagônia deflagrou uma onda de protestos. Projetos como esse, segundo o governo, são cruciais para suprir a crescente necessidade de energia do Chile. A demanda no país deve dobrar nos próximos anos devido ao boom da mineração chilena. Contudo, aos poucos o governo tem prestado mais atenção em energias renováveis. "Nós precisamos dobrar nossa capacidade de suprimento de energia elétrica nos próximos 10 anos", afirmou Gabriel Rodriguez, da chancelaria chilena. "Nós dependemos muito da energia hidrelétrica, que é problemática por causa do impacto ambiental. Carvão, gás e petróleo nós temos que importar. Por isso é essencial investir na energia renovável", disse. Após tomar posse em 2010, o presidente Sebastian Piñera delineou um plano para que até 2020 ao menos 20% da energia usada no país venha de fontes renováveis. A opção mais atrativa no campo da energia renovável, tanto para o Estado quanto para a iniciativa privada, é a energia solar - principalmente devido à queda nos custos da tecnologia usada pelo setor. Segundo a Kraftwerk, o preço dos painéis solares caíram cerca de 30% em 2011 e devem sofrer redução ainda maior neste ano. Mas, a migração dos combustíveis fósseis para a energia limpa pode ser complicada: a Subsole, por exemplo, teve que conseguir financiamento do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) "Emprestamos US$ 32 milhões (R$ 58 milhões) porque o projeto é muito importante. O governo está querendo mudar a matriz energética criando fontes alternativas de energia. Queremos participar disso", disse Maria Urriba, representante do BID no país.

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Mineradoras

Segundo Urriba, o governo chileno deve investir no setor da energia renovável principalmente para suprir a necessidade das empresas mineradoras instaladas no Atacama. A extração de cobre na região é responsável por 70% das exportações do Chile e as mineradoras consomem aproximadamente metade da energia produzida no país. "O deserto do Atacama tem condições perfeitas para aproveitar a energia solar", disse Urriba. A mineradora estatal Codelco está construindo em parceria com a empresa espanhola Solapark uma planta de energia solar próxima à cidade de Calama. Uma vez em funcionamento, a usina fornecerá 1 megawatt de energia para a maior mina de cobre do mundo, a Chuquicamata. Ainda não é possível saber se o Chile alcançará sua ambiciosa meta de que a energia renovável represente 20% do consumo do país em 2020, mas certamente o país começa a perceber o potencial do Atacama.

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