Em SP, árvores ocupam apenas 11,7% das ruas; bairros expõem contrastes

É o que revela estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que utilizou dados do Google Street View para analisar a cobertura verde de 23 cidades do mundo. Capital paulista ocupa 21ª posição, à frente apenas de Quito e Paris

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Por Giovana Girardi
4 min de leitura

SÃO PAULO - Pode até ser clichê, mas não é à toa que São Paulo é vista como uma selva de pedras. Considerando a malha da cidade, sem contar os bolsões de mata ao sul e ao norte da capital nem seus parques, o índice médio de cobertura verde no viário urbano é de só 11,7%. 

O dado foi revelado em uma pesquisa do Laboratório Senseable City, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que já calculou, com o auxílio do Google Street View, a cobertura verde de 23 cidades do mundo. Na lista, São Paulo, o único município brasileiro analisado, fica na terceira pior posição, só à frente de Quito, no Equador, (10,8%) e Paris, na França, (8,8%), a pior colocada.

Os organizadores do projeto, apelidado de Treepedia, explicam que a ideia não é criar um ranking para que as cidades compitam em uma “olimpíada verde”, mas gerar reflexões entre os tomadores de decisão sobre onde é preciso agir para melhorar esses índices. E também servir como uma ferramenta para ajudar a decidir onde essa ação tem de ser priorizada. 

Avenida Sumaré, em Perdizes, zona oeste, tem realidade diferente de outros pontos da cidade Foto: Felipe Rau/Estadão

“O objetivo da Treepedia é quantificar e caracterizar como os cidadãos veem e experimentam a paisagem de uma cidade e seu verde. Como as ruas são a unidade primária pela qual as pessoas se movem e experimentam a cidade, nos concentramos nelas. E, considerando os muitos serviços que fornecem, como o resfriamento e a retenção da água das chuvas, as árvores das ruas são fundamentais”, disse ao Estado Carlo Ratti, diretor do laboratório.

O mapeamento não só quantifica a cobertura das cidades, mas também a distribuição de árvores. No caso paulistano, ele revelou nossa desigualdade verde. Enquanto a zona oeste é bem arborizada, a leste padece sem sombras. Em alguns poucos cantos, a cobertura supera a média das cidades que aparecem com melhor desempenho, como Vancouver, no Canadá,(25,9%) e Cingapura, na Ásia, (29,3%). Algumas ruas do Alto de Pinheiros chegam a ter 46%, enquanto vias na Mooca têm menos de 3%.

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O efeito mais evidente disso são as ilhas de calor. Andar numa avenida como a Celso Garcia, na foto acima, à direita, é imensamente mais desagradável que no canteiro central da Avenida Sumaré. A diferença pode ser de 4°C a 5°C. 

Árvore é saúde. Pesquisas científicas têm apontado, porém, que os benefícios associados a uma boa arborização vão muito além do conforto térmico. Árvores removem poluentes da atmosfera e umidificam o ar. Estima-se que uma única árvore de grande porte pode transpirar 150 mil litros de água em um ano – 400 litros por dia. Estudos em cidades da Europa e dos Estados Unidos também já apontaram para uma redução da depressão, do risco de morte por doenças cardiorrespiratórias e melhora geral do bem-estar em quem vive em áreas urbanas mais verdes.

Foi esse melhora na qualidade de vida que buscou a família do professor de Geografia João Victor Pavesi de Oliveira, que trocou, há cerca de um mês e meio, um apartamento na Bela Vista com vistas para a Avenida Nove de Julho para uma casa em uma rua arborizada da Vila Itajaí, na zona oeste. Ele e a mulher, Camila Haddad, buscavam um lugar onde pudessem andar sem estresse na rua com o filho Francisco, de 9 meses. “Aqui não tem barulho, o ar é mais puro. O bebê parece estar respirando melhor. Ele nunca tinha visto passarinho, e aqui tem um monte”, conta Oliveira.

Outra mudança sentida foi na temperatura, principalmente no trajeto que ele faz de bicicleta de casa à Universidade de São Paulo (USP). “É visível que estamos em uma ilha de frescura, o oposto da ilha de calor. E com menos poluição.”

Impacto no clima. Num futuro cada vez mais quente por causa das mudanças climáticas, a arborização urbana assume importância fundamental, afirma o biólogo Marcos Buckeridge, da USP, que compõe o grupo do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) que analisa os cenários em torno da meta de conter o aquecimento a 1,5°C definida pelo Acordo de Paris.

Arborização urbana aparece como umas das principais estratégias para amenizar ao máximo um aquecimento médio acima de 1,5°C, que podemos sentir já a partir de 2030. Árvores serão o guarda-chuva verde que vai proteger as pessoas”, diz.

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Prefeitura tem meta de plantar 200 mil árvores

O prefeito João Doria (PSDB) já prometeu em mais de uma ocasião que em 2020, ao final da sua gestão, São Paulo terá ganhado 1 milhão de árvores. O plano de metas, porém, define o plantio de 200 mil. O secretário do Verde, Gilberto Natalini, explica que essa meta é de plantio próprio da Prefeitura, mas que estão sendo buscadas parcerias com a iniciativa privada para ampliar a entrega. Segundo ele, só neste ano já foram plantadas 55 mil mudas e pelo menos uma empresa já se prontificou a plantar mais 400 mil árvores.

Natalini disse que foi criado um Comitê Municipal de Arborização, que deve ter sua primeira reunião agora em agosto, com o objetivo de orientar como se dará o plantio e fazer um levantamento das árvores que existem na cidade – quantas são, onde estão e qual seu estado de saúde. A ideia é usar uma metodologia com satélite para isso.

“Nosso lema é plantar a árvore certa, no lugar certo e na hora certa. Não vamos sair plantando na loucura, arrebentando calçada”, diz. Segundo ele, também será atualizado o manual de arborização e de poda da cidade para ser único. “Hoje o Verde, as prefeituras regionais e a Eletropaulo fazem cada um de um jeito e queremos padronizar.”