Degelo no Canadá indica mudanças graves, diz especialista

Cientistas estimavam que as banquisas perderiam 20 quilômetros quadrados neste verão. Perderam 215

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Por DAVID LJUNGGREN
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O degelo incrivelmente rápido das plataformas de gelo no Ártico canadense serve como alerta para as "mudanças muito substanciais" provocadas pelo aquecimento global, disse um renomado especialista na quarta-feira. Pesquisadores anunciaram na noite de terça-feira que cinco banquisas ao longo da ilha Ellesmere, no extremo norte canadense, perderam 23 por cento da sua área só neste verão. Essas plataformas de gelo existem há mais de 4.000 anos. A banquisa maior está se desintegrando, e uma das menores, com 55 quilômetros quadrados, se rompeu inteiramente em agosto. "Os modelos climáticos indicam que as maiores mudanças, as mudanças mais severas, vão acontecer primeiro nas latitudes boreais mais elevadas", disse Warwick Vincent, diretor do Centro de Estudos Boreais da Universidade Laval, no Québec. "Este será o ponto de partida para mudanças mais substanciais em todo o resto do planeta. Nossos indicadores estão nos mostrando exatamente o que os modelos climáticos previam", disse ele à Reuters. A expectativa é de que o aquecimento global provoque mais furacões, ciclones e inundações no planeta. Vincent, que há dez anos visita anualmente as banquisas da ilha Ellesmere, disse que o impacto do aquecimento em 2008 é "estarrecedor". A equipe dele estimava que as banquisas perderiam 20 quilômetros quadrados neste verão. Perderam 215. "Dá para ver mar aberto até o horizonte numa área que é tipicamente coberta de gelo ao longo de toda a estação", disse ele. A banquisa Markham se separou de Ellesmere no começo de agosto. Dois pedaços enormes, totalizando mais de 121 quilômetros quadrados, se soltaram da vizinha banquisa Serson, reduzindo seu tamanho em 60 por cento. A banquisa Ward Hunt, que com 400 quilômetros quadrados é a maior que resta, está se desintegrando. "Claramente a viabilidade de longo prazo daquela banquisa agora na verdade é de curto prazo", disse Vincent. A temperatura máxima registrada neste ano pela equipe foi de 19,7C, bem acima da média história de 7,8C. Vincent diz não ter dúvidas da responsabilidade humana sobre o aquecimento. "Acho que estamos num ponto em que não é impossível de parar, mas pode ser desacelerado. E se você pensar na magnitude dos efeitos sobre a nossa sociedade, então realmente precisamos nos dar mais tempo para nos preparar para algumas mudanças muito substanciais que vêem pela frente."

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