Debate para texto final avança lentamente

Em Nova York, negociadores levam mais de meia hora para discutir cada parágrafo

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Por Gustavo Chacra , Correspondente e NOVA YORK
Atualização:

O avanço nas negociações do documento final da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, é lento e, em alguns momentos, parece emperrar, com dezenas de países, entidades civis e privadas querendo dar as suas opiniões sobre temas que variam de mineração a oceanos. Cada parágrafo demora 30 minutos ou mais para ser discutido. Nesta semana - a penúltima em que se debateu o texto -, foram discutidas 80 páginas. O encontro, em Nova York, acaba neste sábado.

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Os delegados responsáveis pela elaboração e negociação do documento a ser discutido na conferência sobre o meio ambiente no Rio de Janeiro se reuniram mais uma vez nas Nações Unidas, pois não haviam conseguido concluir a tempo o encontro anterior, em maio.

Eles se distribuem em uma série de salas no recém-reformado prédio norte da ONU. Centenas de diplomatas, executivos e membros de ONGs acompanham um texto que aparece em uma tela. Todos leem ao mesmo tempo, enquanto enviam e-mails de seus computadores para outros técnicos e diplomatas envolvidos nas negociações.

Quando um parágrafo começa a ser discutido, as delegações começam a se manifestar. Parece um pouco a negociação de um contrato entre dois advogados. Mas são dezenas de pessoas representando muitas vezes países com interesses conflituosos.

Em um trecho de mineração, por exemplo, o delegado canadense levantou a mão. “Acho que precisamos incluir a palavra ‘explorar’”, disse. O texto dizia, em tradução livre, “ser preciso melhorar a eficiência dos mecanismos existentes na indústria e partes interessadas”. A proposta canadense, por sua vez, mudava para “ser preciso melhorar e explorar a eficiência dos mecanismos existentes na indústria e partes interessadas”. Imediatamente, o chefe da mesa abre um colchete, redige a mudança e acrescenta o nome do Canadá.

O delegado dos EUA decide levantar a mão assim que a redação do novo termo termina. A palavra é concedida para ele. “Nós apoiamos o bom senso do Canadá nesta mudança”, diz o diplomata americano. Assim como os canadenses, eles atuam de forma independente. Outros países participam em bloco, como o G-77, do qual o Brasil faz parte, e a União Europeia.

Em seguida, o grupos dos 77 países pede, no mesmo parágrafo, para que a palavra “corretamente” seja acrescentada depois de “tributada”. O Azerbaijão, também independente, se manifesta para declarar o apoio ao G-77. São mais uns dois minutos com a intervenção. A União Europeia pede outra mudança. “Deve ser tributada corretamente desde que administrada de forma sustentável”, diz um dos vários representantes dos países europeus. Mais colchetes no texto.

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Esses debates prosseguem por todas as manhãs e tardes na ONU, antes de os trabalhos serem transferidos para o comitê preparatório no Rio, onde novas mudanças serão feitas. Até agora, o documento tem cerca de 80 páginas, sendo que os diplomatas consideram 50 como o ideal.

Festival aproxima público de questões ambientais

Uma das primeiras atividades relacionadas à Rio+20, o Green Nation Fest foi aberto no Rio oferecendo gratuitamente mostras interativas, exibições de filmes e oficinas que discutem as mudanças climáticas. A proposta é mostrar de forma leve e lúdica como os debates oficiais da conferência se relacionam com o dia a dia dos participantes. 

O festival espera reunir 24 mil pessoas até o dia 7, antecedendo os debates e eventos oficiais da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento, que acontece entre os dias 13 e 22. “Queremos traduzir de forma simples, para as pessoas vivenciarem as sensações provocadas pelas mudanças climáticas”, afirmou o idealizador do festival, Marcos Didonet. 

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Uma das estratégias para promover essa aproximação é a imersão dos participantes em tendas que simulam catástrofes naturais e efeitos das mudanças climáticas, como enchentes, degelo e queimadas. Além disso, os participantes também podem adotar uma muda de árvore nativa da Mata Atlântica. 

A ideia é que o público acompanhe pela internet o crescimento da árvore, plantada como forma de compensar a emissão de gás carbônico na atmosfera gerada tanto pelo festival quanto pelos participantes em seu deslocamento até o evento. O cálculo é feito medindo as distâncias até a Quinta da Boa Vista, onde acontece o Festival, e o tipo de deslocamento, de carro, bicicleta ou transporte público./ Antonio Pita

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