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Claramente existe um cenário de mudanças climáticas no Pantanal, diz especialista

Focos de incêndio mobilizou bombeiros em vários pontos de Mato Grosso do Sul nos últimos dias; coordenador de projetos do WWF-Brasil aponta para necessidade de reforçar conscientização e aparato antifogo

Por Ítalo Cosme e
Atualização:

Nos últimos dias, o Pantanal voltou a registrar grandes focos de incêndio em Mato Grosso do Sul, o que tem mobilizado bombeiros em vários pontos do Estado. O cenário de estiagem severa ajuda a espalhar as queimadas pela região e, segundo a previsão do governo, as chuvas entre julho e setembro serão 50% menores do que o previsto para esta época. O que sobra são grandes áreas de vegetação destruída e animais feridos e mortos. 

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Para Cássio Bernardino, coordenador de Projetos do WWF Brasil, já é possível observar efeitos das mudanças climáticas no bioma e a expectativa é de que a seca no Pantanal perdure. Segundo ele, investir na conscientização das pessoas, reforçar as brigadas e melhorar a estrutura estatal de combate ao fogo são essencias para evitar prejuízos ainda maiores ao meio ambiente. Leia a entrevista abaixo.

 

Pantanal registrou 21 mil focos de incêndio em 2020, maior índice já registrado. Foto: Araquém Alcântara

1. Qual é o quadro de queimadas no Pantanal hoje?

Entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021, houve algumas chuvas no Pantanal. Isso controlou a situação dos incêndios. Este ano, houve baixas precipitações. Choveu mais ou menos a metade do esperado. O nível do rio (Paraguai) segue muito baixo. Em Mato Grosso do Sul, onde temos uma régua de monitoramento, era esperado nível de 3,5 metros, mas está em cerca de 1,5. O cenário de rio baixo, secas, baixa precipitação e o fim precoce das chuvas fizeram com que o fogo recomeçasse agora. Pela primeira vez este ano, verificamos o número de focos de calor superior ao de 2020. Neste julho, o aumento é de 26%. Há previsões de modelos estatísticos de que essa seca perdure. A expectativa dos especialistas é de que se comece a enfrentar um ano difícil em termos de incêndios no Pantanal.

2. O que é possível fazer para conter esse fogo? 

Importante ter a conscientização das pessoas. Precisamos também introduzir novas técnicas na pecuária que possibilitem a pastagem sem uso do fogo, além de introduzir mecanismos de combate. Brigadas comunitárias são importantes porque são as primeiras a chegar no foco do incêndio; e é preciso maior aparato estatal para combater este fogo. 

3. Há semelhanças entre os eventos registrados em 2020 e os de agora?

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É uma situação que se iniciou em 2019, com o recorde em foco de calor, níveis muito baixos do rio e precipitações menores. Em 2020, um pico, e agora em 2021 está se repetindo. Com o fim das chuvas, incêndios voltaram e o rio segue muito baixo. Claramente, o cenário é de mudanças climáticas na região. Tudo indica que há tendência de seca no Pantanal.  Por isso, é tão importante que seja adotada essa estrutura de combate ao fogo, políticas de maneira integrada do fogo e, principalmente, que o Brasil enderece os seus grandes desafios de conservação. Porque esses incêndios estão emitindo gases de efeito estufa, contribuem pro aquecimento global, dizimam populações de animais e de plantas.

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