Cientistas usarão balão para monitoramento ambiental na Amazônia

Aeronave inflada com gás hélio coletará dados e ampliará acesso às telecomunicações na reserva Mamirauá, no Alto Solimões

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Por Fabio de Castro
Atualização:

Um balão inflado com gás hélio foi a solução encontrada por pesquisadores para coletar dados ambientais em uma vasta região da Amazônia: a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, na região do Alto Solimões (AM). 

O Instituto Mamirauá, responsável por atividades de pesquisa e manejo florestal na região, usará a aeronave para monitoramento da biodiversidade por redes de sensores. Além disso, ela servirá para ampliar o sistema de telecomunicações em localidades remotas. Com mais de três metros de diâmetro, o balão será ancorado por um sistema de cabeamento a cerca de 100 metros do chão, em plena floresta.

Balão poderá fazer o rastreamento de espécies terrestres e aquáticas como onças e peixes-boi com muito mais facilidade que os outros métodos disponíveis Foto: Aqua Expeditions/Divulgação

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O projeto será executado pelo Instituto Mamirauá, pelo Instituto de Computação da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), pelo Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI/MCTI) e a empresa Ômega Aerosystems. O financiamento é da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

De acordo com o professor José Reginaldo Hughes Carvalho, da UFAM, o balão ainda está sendo construído e será lançado até o fim do ano. Depois disso começam os testes de campo e a aeronave estará operacional dentro de mais três meses. "Será um balão multiplataforma, que fará a aquisição de dados de campo e proverá serviços de telecomunicações - incluindo cobertura de internet - para as bases de pesquisa da região e para a comunidade que participa dos programas de desenvolvimento sustentável do Instituto Mamirauá", explicou Carvalho.

Segundo Carvalho, as opções existentes atualmente para o monitoramento ambiental em florestas se mostram inviáveis na reserva Mamirauá - a maior do planeta em área de várzea. A comunicação por satélite é cara demais e limitaria dramaticamente os projetos de pesquisa. A construção de uma base fixa, por outro lado, envolve o desmatamento de áreas e, pelo difícil acesso, teria uma logística de manutenção muito complexa. "Não há terra firme na reserva Mamirauá. O rio sobe de 11 a 15 metros em boa parte da região. Por isso optamos por fazer uma aplicação científica desse tipo de balão, que em geral é usado em operações militares", disse ele. 

A equipe do Instituto de Computação da Ufam voltou a Manaus na segunda-feira, 4, depois de quatro dias no local onde será instalado o balão. Segundo Carvalho, partindo de Tefé (AM), a 520 quilômetros da capital amazonense, é preciso viajar duas horas de lancha até o local. "O balão ficará ancorado em uma base não-flutuante e estabelecerá um lastro de comunicação com a torre mais próxima. Isso vai permitir que os sensores enviem dados diretamente do balão para as bases de pesquisa", afirmou.

Além da aquisição automática de parâmetros da água, do ar e do solo, por meio de sensores, o balão poderá fazer o rastreamento de espécies terrestres e aquáticas como onças e peixes-boi com muito mais facilidade que os outros métodos disponíveis. "Existe a opção de colocar sensores nos indivíduos, mas o descarregamento dos dados é difícil. O balão pode servir com o um ponto concentrador de dados."

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O Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá atua como uma das unidades de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e desenvolve suas atividades por meio de programas de pesquisa, manejo e assessoria técnica nas áreas das Reservas Mamirauá e Amanã, na região do Médio Solimões, Estado do Amazonas. Juntas, estas reservas somam uma área de mais de 3,4 milhões de hectares. 

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