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China e EUA fazem acordo contra efeito estufa, mas há pressão por meta maior

País asiático se comprometeu a reduzir emissões de gases a partir de 2030; já norte-americanos querem dobrar diminuição prevista

Por Denise Chrispim Marin
Atualização:

Atualizada às 22h40
Os Estados Unidos e a China fecharam nesta quarta-feira, 12, um acordo para a redução das emissões de gases do efeito estufa, com metas variáveis entre 2025 e 2050. Mas o convênio firmado em Pequim pelos presidentes Barack Obama e Xi Jinping não eximirá esses dois países de novos e mais ambiciosos compromissos nas negociações globais sobre mudanças climáticas. 
As conversas serão retomadas no mês que vem, em Lima, e devem ser concluídas daqui a um ano, em Paris. O governo brasileiro antecipa a intenção de buscar aliança com atores já comprometidos com cortes substanciais nas suas emissões para “apertar mais” Washington e Pequim.
Segundo a Casa Branca, o acordo impõe aos Estados Unidos a meta de chegar a 2025 com emissões de 26% a 28% menores em relação a 2005. Em 2050, a redução deverá chegar a 80%. Já a China comprometeu-se a não mais aumentar as emissões a partir de 2030, quando deverá elevar a participação das fontes renováveis a 20% de sua matriz energética. 

Líderes da China e dos Estados Unidos se reuniram no Grande Palácio do Povo de Pequim Foto: Petar Kujundzic/Reuters

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“O acordo é louvável e não deixa de ser um sinal positivo. Mas será preciso descer aos detalhes durante a negociação e ‘apertar mais’”, afirmou Carlos Klink, secretário de Mudança Climática do Ministério do Meio Ambiente. “Será muito importante que esses países se comprometam mais para o mundo não chegar a 2100 com aquecimento superior a 2ºC (risco levantado neste ano pelo painel do clima, o IPCC, da ONU)”, disse Carlos Nobre, secretário de Pesquisa e Desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. O Ministério das Relações Exteriores, que lidera a negociação climática, não se manifestou.
Sem garantia. Estados Unidos e China são os maiores emissores de gases de efeito estufa. O primeiro foi responsável por 19% das emissões mundiais em 2008, segundo a Agência de Proteção Ambiental, e traz passivo adicional de dois séculos de utilização. O segundo jamais havia adotado um compromisso desse gênero. Ambos tendiam a frustrar um acordo final na 21.ª Convenção das Partes sobre Mudança Climática, em Paris, que substituirá o Protocolo de Kyoto, de 1997.
 
Não há, porém, nenhuma indicação sólida de que o acordo será adotado. A China ainda resiste a aceitar plenamente as reformas econômicas anunciadas há um ano e precisa da energia fóssil para redução da pobreza e inserção social. E nos EUA a conquista da maioria no Senado pela oposição republicana significará guinada conservadora na agenda de mudança climática, avalia Klink. O país ainda tem uma fonte fóssil - o gás de xisto - menos emissora do que o petróleo e o carvão.
Para as negociações da COP, o jogo de forças começa a ser definido. Os Estados Unidos certamente se aproximam da China. Mas ficarão bastante distantes da União Europeia, bloco igualmente com passivo histórico, que já assumiu o compromisso de reduzir emissões, até 2030, para o patamar de 40% do volume registrado em 1990.
 
O Brasil tem suas ligações com a China e outros emergentes, como a Índia e a África do Sul. Mas já carrega a própria agenda de combate ao desmatamento como contribuição para o corte de emissões, bem mais ambiciosa do que a de seus potenciais sócios emergentes.
Ceticismo. Entre representantes do Brasil no Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC), as opiniões se dividem sobre o acordo assinado nesta quarta em Pequim e seu impacto nas negociações. Roberto Schaeffer, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mais otimista em relação ao consenso em Paris, acredita que os EUA tenham de reduzir entre 70% a 80% suas emissões em 2050 para que haja esperança de o mundo chegar ao fim do século com até 2ºC adicionais na temperatura média. “Não será com uma redução de 28% em relação a emissões de 2005”, afirmou. “Estamos avançando, mas em ritmo lento.”
Para Suzana Kahn, da UFRJ, o acordo de Pequim é interessante pelo reconhecimento do problema. Seu conteúdo, porém, parece inócuo em relação ao esforço imediato que se faz necessário. “Do jeito como a China vai continuar a emitir os gases até 2030, a meta de impedir um aumento superior a 2ºC na temperatura do planeta se torna insustentável.”

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