'Cena alienígena' mostra girinos recém-nascidos comendo ovos da mãe

Imagens são captadas pela primeira vez em espécie caribenha ameaçada de extinção.

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Por BBC Brasil
Atualização:

Cientistas britânicos capturaram em vídeo o comportamento de girinos de uma espécie de sapos caribenha. As imagens, descritas como "uma cena alienígena" por um dos zoólogos responsáveis por sua captação, mostram os filhotes comendo ovos não-fertilizados da mãe assim que eles são liberados. As imagens marcam o sucesso de um programa de reprodução em cativeiro para a espécie Laptodactylus fallax (conhecida regionalmente como "galinha da montanha"), um dos maiores sapos do mundo. Em abril passado, 50 dos anfíbios foram resgatados de Montserrat depois que um fungo mortal atacou a espécie, devastando sua população na ilha caribenha. Desde então, foram estabelecidos alguns programas de reprodução em cativeiro, em uma tentativa de salvar os sapos. Quando sua população tiver aumentado substancialmente em cativeiro, os pesquisadores esperam reintroduzir a espécie em seu habitat natural nos próximos três anos. Visão bizarra As impressionantes imagens foram gravadas no centro Durrell Wildlife Conservation Trust, em Jersey - uma dependência da Coroa Britânica no Canal da Mancha - que abriga 12 dos sapos resgatados. Outros 26 sapos foram para o Parken Zoo, na Suécia, e 12 foram para o zoológico de Londres. Até agora, quatro casais de sapos já começaram a se reproduzir - o que pode aumentar seu número em centenas. E sua reprodução deu aos cientistas uma ideia melhor de como a espécie cuida de sua prole. "Os sapos galinhas da montanha têm hábitos reprodutivos muito peculiares porque eles formam ninhos de espuma em uma toca subterrânea", explicou o zoólogo John Fa, diretor de Conservação Internacional do Durrell. As fêmeas põem os ovos nesses ninhos, e deles saem girinos. Mas como os ninhos ficam embaixo da terra, a comida é escassa e os sapos têm que encontrar um meio de alimentar seus filhotes. "No caso dos galinhas da montanha, descobrimos que a fêmea volta ao ninho e começa a liberar ovos não fertilizados", disse Fa. "Acreditávamos que os ovos seriam liberados e depositados no fundo do ninho para que os girinos os comessem. Mas as imagens mostram cerca de 40 girinos reunidos em volta da mãe e comendo os ovos assim que eles são liberados." "De vez em quando, a mãe usa suas pernas traseiras para empurrar os girinos para longe de seu corpo, para que outra leva possa vir e se alimentar." "É realmente esquisito - é uma cena alienígena. É a primeira vez que capturamos isso em filme", completou. Fungo assassino A espécie Leptodactylus fallax é um dos sapos mais ameaçados do mundo. Ele é conhecido como galinha da montanha porque sua carne tem gosto de frango. A espécie já chegou a povoar sete ilhas do Caribe, mas por causa da caça e de pressões ambientais, atualmente ele só é encontrado em Montserrat e Dominica. O fungo quitrídeo, que vem devastando populações de anfíbios em todo o globo, também afetou os sapos galinha da montanha de Dominica. O fungo foi detectado na ilha pela primeira vez em 2002 e em 15 meses causou a morte de 80% dos sapos da espécie. Ambientalistas ficaram extremamente preocupados quando descobriram que o fungo havia chegado a Montserrat no começo deste ano, e rapidamente afetou a última população de sapos da espécie. A equipe de cientistas decidiu resgatar alguns dos sapos mais saudáveis e levá-los para cativeiro em uma tentativa de salvá-los da extinção. "As coisas não vão muito bem em Montserrat porque o fungo agora afetou a população segura - ou, pelo menos, que nós considerávamos segura", disse Fa. O sucesso da reprodução em cativeiro trouxe esperança aos cientistas, que agora se concentram em aumentar a população da espécie. Eles esperam poder devolver os sapos ao seu habitat em Montserrat e, no momento, procuram locais livres do fungo. "Se isso não funcionar, se a área estiver infectada, vamos ter que repensar e pode ser que levemos os animais para outra ilha", afirmou Fa. "Dentro de um ou dois anos temos que devolver esses sapos ao seu habitat natural. Quanto mais tempo você os mantém em cativeiro, mais difícil é para eles se readaptar a vida selvagem." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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