PUBLICIDADE

Causas ambientais mobilizam chineses na internet e nas ruas

Protestos ambientais não são reprimidos pelo governo, diferentemente de manifestações religiosas e trabalhistas

Por Cláudia Trevisan
Atualização:

A meteórica ascensão da China ao posto de segunda maior economia do mundo provocou um desastre ambiental que afeta a vida de milhões de pessoas, cada vez menos dispostas a aceitar a teoria de que é preciso crescer antes de combater a poluição. Mesmo sob o regime autoritário do Partido Comunista, a emergente classe média urbana sai às ruas e usa a internet para apresentar suas demandas ecológicas, enquanto na zona rural camponeses se manifestam contra a contaminação da água e do solo por dejetos químicos industriais.Nas cidades, são cada vez mais comuns protestos do tipo Nimby (Not in My Backyard, na sigla em inglês), nas quais os moradores tentam evitar a construção ou remover instalações com potencial impacto negativo sobre o meio ambiente. Em agosto, 12 mil pessoas ocuparam o centro de Dalian, no nordeste do país, para exigir o fechamento da petroquímica Fujian, inaugurada havia dois anos com investimento de US$ 1,5 bilhão.Protestos dessa magnitude são raros na China, onde o governo teme perder o controle da situação e se transformar em alvo do descontentamento popular. Mas o ato em Dalian não só foi tolerado como teve resposta imediata: no mesmo dia, as autoridades anunciaram que a planta será transferida para outro local.A classe média urbana teve outra vitória no mês passado, quando o governo divulgou que iniciará estudos para adotar critérios mais rigorosos de medição da poluição do ar nas cidades. A decisão respondeu a uma campanha online comandada por um dos maiores empreendedores imobiliários do país, Pan Shiyi. Dono da construtora Soho, Pan promoveu votação na versão chinesa do Twitter, onde tem 7 milhões de seguidores, e perguntou se os parâmetros oficiais deveriam mudar já neste ano. Em uma semana, 42.188 pessoas votaram, 91% das quais disseram “sim” à imediata adoção de critérios mais rigorosos de medição da poluição do ar.“O governo quer representar a classe média e escuta suas demandas”, diz o jornalista britânico Jonathan Watts, autor de Quando 1 Bilhão de Chineses Pulam, relato da catástrofe ambiental produzida pelo crescimento desenfreado na China. Para ele, não há dúvida de que as autoridades demonstram maior tolerância a movimentos organizados de caráter ambiental que em relação a temas como direitos humanos, reivindicações trabalhistas e religião. Apesar disso, há enormes restrições e inúmeros ativistas são vítimas de perseguição e violência, diz Watts. Sze Pang Cheung, diretor de campanhas do Greenpeace em Pequim, observa que as ONGs têm limites claros, que restringem a organização de movimentos nacionais. “Se elas pudessem ligar os protestos isolados que ocorrem em diferentes partes do país, seria politicamente perigoso.”

Publicidade

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.