Cancún, sede de reunião do clima, também é alvo de ameaça ambiental

Segundo estudos, desenvolvimento acelerado e falta de planejamento agravam situação de balneário que abriga evento da ONU.

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Por Eric Brücher Camara
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Protesto do Greenpeace no mar azul-turquesa de Cancún Cancún é um dos destinos turísticos mais populares do mundo, mas estudos recentes indicam que a mudança do clima reserva maus tempos para o futuro do balneário, que neste ano sedia a conferência das Nações Unidas sobre mudança climática. Com uma gigantesca infra-estrutura hoteleira que cresceu rapidamente desde fins da década de 1970, chegando hoje a cerca de 30 mil quartos, muitos prédios de Cancún ficam a alguns passos do mar azul turquesa do Caribe. E é exatamente isso que, segundo cientistas, ameaça o futuro da região. A existência dos prédios próximos do mar impedem a evolução da flora costeira colaborando para o aumento da erosão das praias. Fatores como elevação do nível do mar, intensificação e maior frequência de tempestades e furacões e maior precipitação - possíveis consequências da mudança do clima nesta região - podem agravar problemas já existentes. A erosão das praias a cada ano se torna mais preocupante. Só em 2009, custou ao governo US$ 100 milhões em trabalhos de transporte de areia de um banco de areia no balneário vizinho Cozumel. "Eu atribuo este problema à forma com que se utiliza a costa", afirmou à BBC Brasil o oceanógrafo físico mexicano Ismael Mariño, do Centro de Investigação e Estudos Avançados (Cinvestad), em Mérida. Demolição Para ele, em vários casos, a melhor solução seria a demolição dos prédios atuais e a reconstrução mais distante do mar, de forma a permitir o crescimento da vegetação costeira. "Daria a Cancún mais chances de sobreviver ao futuro." Para Mariño, as enormes e pesadas construções próximas do mar mudam o sistema natural da costa, o que pode ser ainda mais agravado com a subida . Com a possível elevação do nível do mar, milhares de dólares teriam de ser investidos todo ano não só para reconstruir as praias como para proteger os hoteis. Furacões O prognóstico sombrio marca também a tese de doutorado do pesquisador Arnoldo Matus Kramer, da universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, que investigou o impacto das mudanças climáticas no estado mexicano de Quintana Roo como um todo. Ele inclui o perigo de furacões cada vez mais fortes e mais frequentes entre os fatores que ameaçam Cancún. Em 1998, o furacão Gilbert causou prejuízos a 24% do setor hoteleiro do balneário. No entanto, foi o Wilma que causou os maiores prejuízos da história mexicana, quase US$ 1,5 bilhão. O perigo de altas construções localizadas diretamente à beira do mar diante de furacões cada vez mais intensos é evidente. Mas as altas ondas provocadas por tempestades também podem agravar o problema de erosão das praias. Para Matus, o mais preocupante é que o modelo de crescimento rápido e pouco ordenado está sendo repetido em outras praias do estado, por causa da saturação da infra-estrutura em Cancún. 'Caso perdido' Ele alerta para a importância de adaptar os novos empreendimentos enquanto ainda há tempo. "Para muitos, Cancún já é um caso perdido", afirmou. "As metas de crescimento urbano não foram seguidas, mas economicamente, este lugar é um sucesso." Para Mariño, a adaptação para enfrentar as mudanças climáticas em Cancún pode passar por comportas no estilo holandês para manter o mar a uma distância segura. Por enquanto, de acordo com o pesquisador Arnoldo Matus Kramer, quem vem garantindo o futuro do balneário são seguradoras e governo. "Criou-se uma indústria para salvar Cancún", ironizou. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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