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Campanha de Marina Silva recebeu R$ 3 mi em doações de setores poluidores

Segmentos como os de metalurgia, mineração e fertilizantes doaram 12,5% do total arrecadado para a campanha da candidata verde

Por Gustavo Bonfiglioli
Atualização:

A campanha da senadora Marina Silva, candidata do PV para a Presidência da República, recebeu R$ 3 milhões em doações de segmentos poluidores, como os de metalurgia, mineração, papel e celulose, fertilizantes e cana-de-açúcar. Dentre os outros setores contribuintes destacam-se o bancário e o de construção, que somaram mais R$ 6 milhões ao montante.

 

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Empresas como Cosan (uma das maiores produtoras mundiais de cana-de-açúcar), Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Suzano Papel e Celulose, Klabin e Bunge, entre outras relacionadas a atividades poluentes, financiaram 12,5% dos R$ 24,1 milhões arrecadados para a campanha da candidata verde.

 

Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente e senadora pelo PV-AC, teve grande parte de sua agenda política pautada pela causa ambiental. Defendeu a criação de uma agência nacional para prevenção de desastres ambientais e o veto às mudanças no Código Florestal que favoreceriam desmatadores, entre outras propostas. A assessoria de Marina Silva explica que o principal motivo das doações desse tipo de empresa é o modelo vigente de financiamento de campanhas, que obriga os candidatos a arrecadarem em curto prazo.

 

“Nós só temos três meses para arrecadar os fundos de campanha. Não dá para pedir atestado de 100% de excelência. Por isso, defendemos durante o processo eleitoral uma reforma política, com financiamento público de campanhas, como proposta de governo”, explica Nilson de Oliveira, assessor da candidata, que reitera que “não foi firmado nenhum tipo compromisso com as empresas financiadoras”. Segundo ele, os únicos critérios de exclusão se estenderam às empresas de fumo e de armamento. “As condições não permitem criar muitas outras barreiras.”

 

Ainda de acordo com Oliveira, também se buscou foco em doações de pessoas físicas pela Internet, que teve 2,831 doadores via cartão de crédito, totalizando R$ 169,2 mil. Uma pessoa física em especial, entretanto, doou quase metade do valor da campanha: o vice Guilherme Leal, proprietário da Natura, que deu R$ 11,8 milhões: 49% do valor total. A campanha de Marina Silva foi substancialmente mais barata que a dos outros dois candidatos: Dilma gastou R$ 157 milhões e Serra, pouco mais de R$ 100 milhões.

 

Marcelo Furtado, diretor executivo do Greenpeace no Brasil, concorda com a assessoria de Marina Silva no que diz respeito ao financiamento de campanhas. “É um absurdo que os eleitores só fiquem sabendo quem são os financiadores depois das eleições.”

 

Furtado acredita que o apoio desses setores a uma campanha verde não seja uma contradição, e sim uma mudança de postura. “Quando estes setores poluentes apoiam financeiramente uma candidata com prioridade ambiental na agenda, infere-se que eles tenham adquirido comprometimento em agir com sustentabilidade”. O ativista ainda argumenta que essa é uma oportunidade para a sociedade civil, posteriormente, cobrar das empresas ações que sejam congruentes com esse aporte. “Para evitar a 'maquiagem verde', deve-se cobrar que se transforme o discurso em ação. O Brasil já sabe descobrir e punir possíveis irregularidades”.

 

Algumas das companhias poluidoras que financiaram a campanha de Marina Silva estão relacionadas a polêmicas ambientais recentes. A Suzano, doadora de R$ 532 mil, esteve envolvida em julho deste ano em uma ação dos Ministérios Públicos Federais (MPFs) do Maranhão e do Piauí contra as instâncias estaduais de meio-ambiente, por suspeita de irregularidades na concessão de licitações ambientais para o desmatamento de áreas em torno da bacia do Rio Parnaíba, que abrange os dois estados, para a monocultura de eucalipto. A assessoria da empresa se defende: "Hoje, a Suzano não possui qualquer passivo ambiental e destaca-se como empresa-modelo por suas práticas e estratégias sustentáveis, como o monitoramento e controle de possíveis impactos nas microbacias; plantio em mosaico, intercalando áreas de mata nativa e os plantios de eucalipto, rígidos padrões de tratamento de efluentes, entre outros".

 

A multinacional Bunge, que entrou com R$ 100 mil na campanha, iria instalar uma mina de fosfato - minério que é uma das bases para a produção de fertilizantes - na cidade de Anitápolis (SC), em parceria com a Indústria de Fosfatados Catarinenses (IFC) e a companhia norueguesa Yara. O empreendimento, que está embargado pelo MPF desde setembro de 2009, poderia desmatar pelo menos 247 hectares de florestas em um município que ainda mantém grande parte da vegetação da Mata Atlântica: cerca de 69% do território. Em janeiro deste ano, a área de fertilizantes da Bunge, representada pela Fosfértil, foi vendida para a Vale do Rio Doce por US$ 3,8 bilhões. A Fosfértil, já pertencente à Vale, doou R$ 600 mil para Marina Silva, e a construção da fosfateira de Anitápolis ainda está embargada pela Justiça Federal.

 

Adalgiso Telles, diretor de Comunicação e Sustentabilidade da Bunge Brasil, explica que "as contribuições são feitas àqueles candidatos que promovem e defendem o desenvolvimento sustentável do agronegócio. A candidata tem uma clara posição de defesa e promoção do desenvolvimento sustentável de toda a economia brasileira e isso está alinhado com nova visão de melhorar a cadeia global de alimentos de forma responsável e sustentável".

 

A CSN, que deu R$ 300 mil para a campanha, instalada em Volta Redonda (RJ), é conhecida pelos impactos ambientais na bacia do Rio Paraíba do Sul. Outras empresas financiadoras: Companhia Metalúrgica Prada (R$ 150 mil), Urucum Mineradora (R$ 500 mil), Klabin (R$ 250 mil), Cosan (R$ 250 mil) e a Cooperativa de Produtores de Cana-de-açúca e Álcool do Estado de SP (R$ 250 mil).

 

No setor de construção, que sozinho representou R$ 3,1 milhões, os principais doadores foram a Andrade Gutierrez (R$ 1,1 milhões) a Camargo Correa (R$ 1 milhão) e a Construcap (R$ 1 milhão). O empresário Eike Batista fez uma doação de R$ 500 mil à candidata.

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