Brasil propõe gatilho para elevar metas de Kyoto

Proposta é de que as metas de corte de emissões possam ser aumentadas durante 2º período do protocolo

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Por Giovana Girardi
Atualização:

DOHA - Na tentativa de destravar ao menos em parte a pouca ambição dos países na Conferência do Clima da ONU, o Brasil propõe uma espécie de gatilho para aumentar as metas de reduções de emissões das nações que se comprometerem com o segundo período do protocolo de Kyoto. A continuidade do tratado, cujo primeiro período termina no final do ano, foi uma das decisões tomadas no ano passado na COP de Durban (África do Sul). Para a conferência atual tinham sobrado detalhes a serem resolvidos, mas a situação ficou mais complicada do que se imaginava.O segundo período é considerado essencial pelo Brasil e outros Basics (China, Índia e África do Sul) por poder servir de referência de regras básicas para um novo tratado climático que tem de ser estabelecido até 2015. Os países que concordaram em participar (como os da União Europeia e a Austrália) respondem por 15% das emissões mundial e estão chegando com propostas não muito altas para os próximos anos. A UE fala em cortar 20% em relação a 1990, sendo que afirma estar chegando a quase18%.Alguns países em desenvolvimento, em especial as ilhas, que normalmente pedem mais urgência por conta dos ricos de elevação do nível do mar, acham que isso é muito pouco. A UE não consegue aumentar mais porque a Polônia não quer. A ideia era chegar a pelo menos 30% até 2020.O Brasil propõe que a meta seja elevada no decorrer do período - o que grupo europeu já tinha proposto -, mas que essa definição já esteja prevista. "A ideia é que seja possível subir os valores a qualquer momento, sem ter de refazer a emenda ou passar por um novo processo de ratificação", explica o embaixador brasileiro Luiz Alberto Figueiredo, negociador-chefe do Brasil."O segundo período de compromisso é a chave dessa negociação. Se ele não for feito aqui, temo que os outros elementos não aconteçam", diz.O Protocolo de Kyoto também é importante porque com ele se mantém o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, por meio do qual países que precisam cortar emissões podem comprar créditos de carbono de projetos desenvolvidos em países em desenvolvimento que promovam essa redução. Desde sua existência, ele envolveu mais de 5 mil projetos e reduziu mais de 1 bilhão de toneladas de carbono.NegligênciaNesta terça-feira, 4, teve início em Doha o chamado segmento de alto nível, no qual ministros e chefes de Estado assumem as negociações. Na cerimônia de abertura, um vídeo produzido pelo Catar tentou sensibilizar os negociadores presentes a agirem ao mostrar casos de pessoas que sozinhas tentaram fazer a diferença. "Não agir agora é como um médico esperar até o estágio final de uma doença. É negligência", disse o vídeo. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que a esta altura, todo mundo sabe o que são as mudanças climáticas e o que precisa ser feito, mas que alguns resolveram se cegar para o problema. Pediu mais uma vez urgência e vontade política.A repórter viaja a convite da Convenção do Clima da ONU (UNFCCC).

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