Arquipélago dos Alcatrazes será aberto ao turismo

Visitação pública no lendário arquipélago do litoral norte de São Paulo deve começar em 2018. Portaria que regulamenta a atividade será publicada nesta quarta-feira

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Por Herton Escobar
Atualização:

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Local está fechado para visitas desde a década de 1980. Foto: Luciano Candisani

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Primeiro, veio o cessar-fogo com a Marinha, em 2013. Depois, a transformação em área protegida federal, em 2016. Agora, o Arquipélago dos Alcatrazes vai ser finalmente aberto ao turismo, no litoral norte de São Paulo.

A portaria que regulamenta a visitação pública deve ser publicada na quarta-feira (13), quando será realizada uma cerimônia de celebração de um ano da criação do Refúgio de Vida Silvestre (Revis) de Alcatrazes. Segundo informações exclusivas obtidas pela reportagem, serão autorizadas apenas atividades marinhas de mergulho e contemplação, sem desembarque nas ilhas.

O lendário arquipélago fica a apenas 35 quilômetros de São Sebastião, decorando o horizonte de algumas das praias mais famosas do Estado, mas está fechado à visitação desde o início da década de 1980, por imposição da Marinha — que até recentemente utilizava as ilhas como alvo para prática de tiros e outros exercícios de guerra.

Localização de Alcatrazes:

Sua aparência pré-histórica, com formações rochosas semelhantes à do Pão de Açúcar carioca, é um reflexo fidedigno do seu isolamento geográfico e das peculiaridades de sua biodiversidade, que inclui várias espécies endêmicas — ou seja, que não existem em nenhum outro lugar do mundo. Entre elas, as famosas jararaca-de-alcatrazes e perereca-de-alcatrazes, ambas ameaçadas de extinção.

A ilha principal, com 2,5 quilômetros de extensão, abriga o maior ninhal de fragatas do Brasil, com cerca de 6 mil aves, que chegam a escurecer o céu quando levantam voo com suas enormes asas, de até 2 metros de envergadura. O espetáculo se repete debaixo d’água, onde cardumes nadam sobre jardins de algas e corais-cérebro, povoados por lesminhas coloridas e outras criaturas curiosas. Em nenhum outro lugar do Brasil — nem mesmo em Fernando de Noronha — pode-se encontrar mais espécies de peixes do que em Alcatrazes.

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“Todo mundo merece ver esse lugar”, diz o biólogo Leo Francini, fotógrafo e mergulhador profissional, que trabalha com cientistas e ambientalistas no arquipélago há mais de 20 anos. “Não passa um dia sem eu receber um e-mail de alguém ansioso em ir para lá.”

Corais cérebro e baba-de-boi:

Imagem em 360 graus do ambiente submarino de Alcatrazes, produzida pelo projeto Interatrilhas, em parceria com a Revis Alcatrazes, do ICMBio. O Interatrilhas é uma iniciativa do Museu de Ciências da Universidade de São Paulo, órgão da Pró-reitoria de Cultura e Extensão Universitária.

Cronograma. A visitação de fato deve começar no início de 2018. Os próximos três meses serão dedicados ao cadastramento de empresas, treinamento de condutores, emissão de licenças e instalação de poitas — cordas amarradas a blocos de concreto no fundo do mar, para serem utilizadas como âncora.

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As atividades permitidas serão as de mergulho autônomo (com cilindros de ar comprimido) e passeios de barco, que poderão incluir observação de aves e mergulho livre (com snorkel). O desembarque nas ilhas não será permitido por questões de segurança, tanto dos visitantes quanto da fauna e da flora nativas. O arquipélago não possui nenhuma praia de areia que permita um desembarque seguro; apenas costões rochosos, que dificultam bastante o acesso.

Também não será permitida a visitação autônoma, por particulares. As empresas interessadas em operar no arquipélago terão de se cadastrar com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), atendendo a uma série de exigências; e todas as atividades terão de ser monitoradas e orientadas por condutores locais treinados, inclusive debaixo d'água. Serão liberados dez pontos de mergulho, com limite de uma embarcação e 20 mergulhadores por ponto.

Planejamento. “O primeiro passo para garantir que o turismo não traga um impacto negativo é o bom planejamento das atividades”, diz a chefe do Núcleo de Gestão Integrada do Arquipélago dos Alcatrazes do ICMBio, Kelen Leite.

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Um importante diferencial desse processo, segundo ela, é que as regras iniciais previstas na portaria funcionarão em caráter experimental nos primeiros dois anos, com a possibilidade de serem alteradas de acordo com a necessidade — tanto no sentido de flexibilizar quanto de endurecer as normas. A ideia é desenvolver o melhor regramento possível, sem engessar o plano de manejo da unidade.

“Como a visitação ainda não existe no arquipélago, não há como prever todos os impactos que poderão acontecer”, explica Kelen. “Se for detectado algum dano, podemos interromper ou modificar uma atividade a qualquer momento.”

Nesse primeiro período, não será cobrado ingresso dos visitantes. “Nossa ideia é que Alcatrazes seja um indutor de turismo para toda a região”, diz Kelen.

Paredão de fora:

Vista aérea em 360 graus do topo de Alcatrazes, produzida pelo projeto Interatrilhas, em parceria com a Revis Alcatrazes, do ICMBio. O Interatrilhas é uma iniciativa do Museu de Ciências da Universidade de São Paulo, órgão da Pró-reitoria de Cultura e Extensão Universitária.

Proteção. O turismo em áreas protegidas sempre traz ameaças que precisam ser gerenciadas; mas a experiência mostra que ela ajuda na proteção, especialmente em unidades de conservação marinhas, que são ainda mais difíceis de fiscalizar do que as terrestres.

“A visitação pública é sempre desejada”, diz o secretário de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, José Pedro de Oliveira Costa, que participa dos esforços pela conservação de Alcatrazes desde os seus primórdios, na década de 1980. “Havendo visitação e pesquisa, é maior a presença de pessoas bem intencionadas na área, o que aumenta a vigilância. Há também um importante fator de educação ambiental. Mais importante do que tudo, o visitante ficará extasiado com tanta beleza e será mais um, entre muitos, a defender a proteção de Alcatrazes.”

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“Não tem como ir a Alcatrazes e não se apaixonar, não querer defender esse lugar”, concorda Francini. “É uma oportunidade de estabelecer parcerias com a sociedade, tanto para proteção quanto para a pesquisa científica”, diz o pesquisador Fabio Motta, do Departamento de Ciências do Mar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que desenvolve trabalhos de monitoramento da fauna marinha no arquipélago.

Outro reforço à proteção e à pesquisa será um catamarã de 60 pés, que funcionará como uma base flutuante permanente no arquipélago. Assim, a equipe do parque passará a ter uma presença física constante no mar, em vez de apenas responder a ocorrências com uma lancha. “Será um avanço de gestão enorme para nós”, comemora Kelen.

Para conhecer a história de Alcatrazes e saber mais sobre o arquipélago, veja o especial multimídia Alcatrazes: Um mundo perdido no litoral paulista.

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