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Análise: Deter o aquecimento global é mudar a economia

Mudança em investimentos é o instrumento mais forte para prevenir e atenuar os efeitos nocivos das mudanças climáticas sobre a vida de bilhões de pessoas

Por Carlos Bocuhy e Presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam)
Atualização:

Entramos no Antropoceno, defende a Sociedade Geográfica Britânica, atestando a mudança de era geológica desde que o Planeta passou a ser regido pela intervenção humana. Os sucessivos painéis do IPCC apontam esse mesmo contexto. Rompemos a capacidade de suporte do planeta com o lançamento de gases de efeito estufa, ou seja, superamos os limites de alterações aceitáveis na atmosfera terrestre.

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A maioria da população ignora os riscos. Vejamos por um ângulo: da imprevisibilidade que assolará mais e mais o regime de chuvas. O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais declarou, há pouco tempo, que não há mais confiabilidade na série histórica de pluviometria. Trata-se agora de fenômeno errático, que passo a passo se torna intempestivo, concentrado e seguido de veranicos. Haverá maior incidência de eventos extremos. Qual a segurança para as obras projetadas com base na série histórica e em áreas com declividade, sejam estradas, edificações, etc.? Quanto custará a adaptação para o novo cenário?

Frente à segurança alimentar, quanto custará à agricultura brasileira adaptar-se? Qual o montante de investimento em processos de irrigação e contra a erosão de solo que arrasta para rios e represas bilhões de toneladas de solo fértil, diminuindo lentamente sua capacidade de vazão e armazenagem? De que montante será o prejuízo para a biodiversidade com o fenecimento da Floresta Amazônica? Qual a valoração da perda de biodiversidade decorrente das alterações no regime hídrico no Pantanal, com a perda de transposição de umidade da Amazônia? São perguntas basilares para as quais a sociedade brasileira ainda não acordou. Basta verificar que inexistem políticas setoriais que, possuem capacidade de intervenção prática na realidade? 

Se governos e setor privado discursam em tom pró-sustentabilidade, uma coisa não muda: a economia. Bruce Rich, autor do livro Foreclosing the Future: the World Bank and the Policies of Environmental Destruction, lançado ao final de 2013, demonstra que ao longo dos últimos 20 anos os investimentos do World Bank (WB) privilegiam a devastação. Observando os investimentos do WB durante o ano de 2011, quando as mudanças climáticas já eram amplamente reconhecidas, verificou que houve investimento de US$ 10 bilhões em financiamentos para a área de energia, sendo apenas 35% destinados à energias renováveis, enquanto que 65% foram destinados a combustíveis fósseis. Rich conclui que há um comportamento assemelhado à amnésia, já que a maior agencia multilateral mundial não consegue avaliar suas políticas e aprender com seus erros. 

Para nós brasileiros a questão é a mesma. Quais as políticas setoriais que atuam sobre as causas do aquecimento global?Biocombustíveis, à custa da destruição de ecossistemas por monoculturasintensivas? 

Surgem hoje iniciativas interessantes na Europa de como adaptar totalmente uma instituição, como por exemplo uma universidade, em toda sua estrutura, vida interna e aspectos práticos, a um comportamento adequado que atenue as causas do aquecimento global. Há pequenas ações, mas que rumos a economia internacional e brasileira tomam para evitar a gigantesca deseconomia planetária que emerge literalmente em resposta à intensidade das ações humanas? Qual o papel do Banco Central e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)? Qual o papel dos bancos privados? O que vão financiar, sustentabilidade ou insustentabilidade? Mudanças climáticas é um assunto que está devidamente contemplado nas salvaguardas éticas dos agentes financiadores quando os financiamentos são concedidos?

A mudança da economia é o instrumento mais forte para prevenir e atenuar os efeitos nocivos sobre a vida de bilhões de pessoas.

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