ANÁLISE-Com adiamento, Copenhague pode virar Doha

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Por ALISTER DOYLE
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O quase consenso de que a cúpula de dezembro em Copenhague não deve resultar em um novo tratado climático de cumprimento obrigatório pode gerar um longo impasse, que seria tão prolongado quanto o da Rodada Doha da abertura comercial, segundo especialistas. A ONU e a Dinamarca, anfitriã do encontro de 7 a 18 de dezembro, dizem que todos os elementos centrais ainda podem ser definidos em um tratado "politicamente vinculante", o que incluiria cortes nas emissões de gases-estufa de países ricos e novas verbas para ajudar os países pobres. Analistas veem o risco de que alguns países -- liderados pelos Estados Unidos, cujo Senado ainda não aprovou uma legislação de limitação do carbono -- possam aproveitar o adiamento do tratado para atenuar a pressão sobre si. "Isso gera o espectro de ter um impasse sobre a parte jurídica arrastando-se pelos próximos anos", disse Alden Meyer, da União de Cientistas Preocupados. Ele disse que Copenhague deve estabelecer um prazo firme para a negociação do texto. "O medo é de que a gente tenha um acordo em Copenhague e um processo obscuro a partir daí, o que poderia levar a uma situação tipo Doha", ecoou Kim Carstensen, chefe de iniciativa climática global da entidade ambientalista WWF. Ele disse que os governos ainda deveriam tentar obter um acordo em Copenhague que ajudasse a evitar ondas de calor, secas, o aumento do nível do mar, a extinção de espécies e tempestades mais fortes. O acordo de Doha, destinado a promover a abertura do comércio internacional, continua sem solução após oito anos de discussões, e a Organização Mundial do Comércio (OMC) alerta os países de que, se eles não acelerarem as negociações, não cumprirão a meta de concluí-lo em 2010. EXPECTATIVAS A Dinamarca nega estar reduzindo as expectativas para fechar um acordo complexo, apenas sendo realista. Desde setembro, o primeiro-ministro Lars Lokke Rasmussen tem dito que a cúpula de Copenhague não chegaria a um tratado pleno. Em muitos países desenvolvidos, a recessão e o desemprego fizeram com que os governos deixassem de priorizar a questão climática, além de relutarem em assumir compromissos potencialmente onerosos. A ministra do Clima e da Energia, Connie Hedegaard, disse que a cúpula pode definir cortes nas emissões dos países ricos, ações das nações em desenvolvimento e formas de ajudar os países pobres a receberem ajuda para mitigação, verbas e tecnologia. "Não estamos rebaixando as ambições", disse ela a jornalistas durante uma reunião com 40 ministros de Meio Ambiente na segunda-feira em Copenhague. A ONU rejeitou qualquer comparação com Doha, apontando para o apoio inédito dos líderes mundiais na luta contra o aquecimento global. Pelo menos 40 líderes pretendem participar da cúpula de Copenhague -- inclusive o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Já a presença de Barack Obama ainda não está certa.

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