Negociador de Granada, país insular caribenho, Albert Binger é consultor científico da presidência da AOSIS (Aliança dos pequenos estados insulares). Em entrevista inédita concedida ao Estadão, Binger fala sobre as consequências das mudanças climáticas para as ilhas do Pacífico e do Caribe.
Sabemos que o aumento do nível do mar pode ter consequencias catastróficas para algumas ilhas. O que está acontecendo nas ilhas do Caribe e o que está acontecendo nas ilhas do Pacífico?
Em ilhas como Tuvalu e Tonga a água já está na casa das pessoas. As ilhas do Pacífico são muito diferentes das ilhas do Caribe. Em Granada a situação ainda não chegou a tanto.
Mas o sistema de transporte de vocês no Caribe estará seriamente ameaçado caso o nível da água suba muito, não é verdade?
Ah, sim, definitivamente. Há apenas dois aeroportos no Caribe que escaparão do alagamento caso tenhamos uma subida do nível do mar da ordem de 1 metro ou 1,5m. Nós temos de fazer algo.
Vocês vêm monitorando o nível do mar? Há quanto tempo?
Temos, sim, um trabalho de monitoramento do mar e das marés. Sempre houve monitoramento, mas nos últimos dez anos temos mais dados do que antes.
Você sabe quanto o mar já subiu em Granada?
Bem, não foi muito ainda, no Caribe. Alguns centímetros. O problema aumenta nas marés altas,mas ainda é controlável.
Mas no Pacífico a situação está pior, não é?
Em Tuvalu algumas pessoas já tiveram de abandonar suas casas. Há água nas casas das pessoas, sobretudo nas marés altas. Água nas ruas.
E como as pessoas estão se adaptando à subida do nível do mar? Tuvalu e Tonga, assim como muitas ilhas do Pacífico, são atóis muito baixos e planos. São mais vulneráveis. No Caribe, o impacto da mudança climática é diferente do Pacífico. O problema não é propriamente o nível do mar. No Caribe as ilhas são mais altas. Lá, o problema está mais relacionado ao clima mesmo. Temos visto mais secas, mais alagamentos e furacões mais frequentes. Os estragos dos furacões vêm aumentando. Quando tivemos o Ivan, em 2004, a perda com relação ao PIB foi de 4%. Em 2007, perdemos mais de 10% do PIB com furacões. Está ficando cada dia pior.