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Acordo climático no México parece distante, dizem especialistas

Por ALISTER DOYLE
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As divisões entre a China e os Estados Unidos tornam cada vez mais improvável que a conferência deste ano no México sobre o clima resulte em um novo acordo contra o aquecimento global, segundo especialistas reunidos no evento Reuters Global Climate and Alternative Energy Summit. Na opinião deles, os 194 governos envolvidos podem na melhor das hipóteses concordar com medidas sobre a ajuda financeira e tecnológica para questões climáticas e ambientais nos países pobres, mas mesmo assim há riscos de impasse na conferência da ONU, que vai de 29 de novembro a 10 de dezembro em Cancún. "Se Cancún for uma grande frustração, obtendo nada ou muito pouco, então acho que muitos governos do mundo todo vão começar a dizer: 'O que resulta desse processo?'", disse a comissária (ministra) do Clima da União Europeia, Connie Hedegaard. "Os cidadãos do mundo começarão a ficar cansados se tudo o que conseguirmos em Cancún for trocar acusações sobre de quem é a culpa por não fazer nada", acrescentou. A conferência anterior da ONU, em 2009, em Copenhague, já fracassou na busca por um novo tratado de cumprimento obrigatório para substituir o Protocolo de Kyoto a partir de 2013. O ritmo das negociações para a reunião de Cancún põe em dúvida até mesmo a possibilidade de que seja aprovado um conjunto de acordos mais reduzidos. "Estamos numa situação muitíssimo perturbadora", disse Achim Steiner, diretor do Programa Ambiental da ONU, explicando que muitos países atribuem a inação à crise econômica. Mas ele previu que incidentes climáticos como as inundações no Paquistão ou a seca na Rússia, que causou uma alta global no preço dos grãos, acabarão estimulando o mundo a adotar um novo tratado climático. Christiana Figueres, chefe do Secretariado de Mudança Climática da ONU, afirmou que a conferência de Copenhague mostrou ao mundo que não existe uma "bala mágica" para resolver o problema climático. Segundo ela, Cancún pode resultar em um conjunto de decisões -- financeiras, tecnológicas ou para a proteção de florestas tropicais -- que poderiam posteriormente ser consolidadas num tratado formal. "Os governos precisam, sim, redobrar seus esforços de agora até Cancún", afirmou ela. G20 Alguns especialistas dizem que as discussões podem passar do âmbito da ONU para outros grupos, como o G20 -- que inclui todos os principais emissores de gases do efeito estufa, como China, EUA, União Europeia, Rússia e Índia. "As discussões não estão indo a lugar algum", disse o dinamarquês Bjorn Lomborg, autor de "O Ambientalista Cético". Ele disse que o mundo deveria abandonar o processo da ONU e concordar em investir 100 bilhões de dólares por ano em tecnologias novas e limpas, como a solar e a eólica. Mas Figueres e Steiner disseram ser errado prever o colapso das negociações da ONU. Uma objeção a grupos como o G8 (só de grandes países industrializados) ou G20 (que inclui também os grandes emergentes) é que eles excluem 3 ou 4 bilhões de pessoas nos países pobres, como Bangladesh e os pequenos Estados insulares do Pacífico, que não tiveram responsabilidade sobre o aquecimento global, mas podem sofrer as piores consequências. Steiner disse que o mundo não pode ignorar as opiniões desses países. "O processo multilateral é... um processo pesado e necessariamente lento... mas absolutamente indispensável", disse Figueres. Na semana passada, na China, uma rodada final de negociações preparatórias para Cancún foi afetada por disputas entre Pequim e Washington, maiores emissores mundiais de gases do efeito estufa. Os EUA cobram mais empenho da China, que, por sua vez, diz que o maior ônus deve recair sobre os norte-americanos, por serem a maior economia mundial. Para os investidores também as expectativas com Cancún são reduzidas. "Seria legal ter a sensação de que (as negociações) estão se dirigindo para frente, e não para trás", disse Rob Lake, diretor de sustentabilidade e governança do fundo holandês de pensões APG. Consultores da ONU afirmaram na terça-feira na Etiópia que é viável para os países ricos manterem a promessa feita em Copenhague de arrecadar 100 bilhões de dólares por ano em ajuda para os países em desenvolvimento a partir de 2020, apesar das medidas de austeridade fiscal entre muitas nações doadoras. O primeiro-ministro norueguês, Jens Stoltenberg, que copresidiu o encontro, disse que as penalidades pela emissão de carbono devem ser uma importante fonte de recursos. "Espero que este relatório seja uma... contribuição útil para as negociações", afirmou. (Reportagem adicional de Pete Harrison, em Bruxelas; David Fogarty, em Cingapura; Gerard Wynn e Nina Chestney, em Londres; e Ernest Scheyder, em Nova York)

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