De lá pra cá, entre idas e vindas de uma pauta a outra, identifiquei a fachada com seu ponto de luz em meio ao concreto, um jardim com tantas e variadas plantas formando uma verdadeira mini floresta urbana.
Nunca havia tentado contato com o taxista, era essa a sua profissão, me contentava em apreciar sua bela obra e me recordar cada vez com a memória mais embaçada sua participação no filme.
Essa calma paralisante mudou quando avistei no final do ano passado, em meio à uma cheflera e um pé de pitanga, uma placa de Vende-se com letras vermelhas e fundo amarelo. Pensei: "Nunca irei me perdoar se esse sujeito sumir. Antes disso preciso conhecê-lo!". Liguei para a imobiliária, expliquei o meu interesse em fazer a reportagem. Fiz campana na frente do edifício. Falei com alguns moradores. Nada surtiu efeito. Até uma bela manhã de domingo. Um dia de "outonico" em janeiro desse ano. Um surpreendente dia frio em meio ao calor escaldante, me deparei com um senhor de camisa azul, medalha com santos protetores no peito, sandálias e pão quente debaixo do braço prestes a entrar no prédio. Perguntei sobre o taxista, "proprietário da floresta" e eis que era o próprio, ali, em carne e osso, depois de tanta procura.
Subimos juntos tomamos café e pude então conhecer esse lugar especial. São tantas plantas, que tentar citá-las uma a uma incorreria em injustiça com as que seriam esquecidas. O que falta em conhecimento botânico no nosso jardineiro taxista sobra em amor pelo seu espaço, sua forma de se destacar em meio ao cinza. Para a multidão que pedala, corre, flerta e se diverte aos domingos no Minhocão, essa paisagem virou ouro puro. Vi uma família de orientais, embevecidos com o jardim. Pais e filhos, crianças, casais, muitos, sendo seduzidos por esse significativo universo verde,sacando seus celulares e guardando um souvenir visual.
Se nesse domingo ensolarado, de Virada Cultural e cheio de atrações por todos os cantos,você estiver perambulando pela cidade, dê uma volta pelo Elevado e tente descobrir a fachada com esse reino encantado, todo peculiar.
A seguir mais algumas fotos inéditas e link com o perfil "Um taxista na varanda", escrito pela colega Mônica Manir para o caderno Aliás.
http://alias.estadao.com.br/noticias/geral,um-taxista-na-varanda,10000049680