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Um olhar humano sobre os seres vivos que coabitam o planeta

Acidentalmente no Zoológico de Washington, nos Estados Unidos

Precisamos revisitar essa idéia de que encarcerar um animal se justifica como ação para a conservação da espécie. Quem ama se responsabiliza (se necessário) e então liberta. E isso vale para tudo e todos!

Por Marcia Triunfol
Atualização:

Estou em visita a capital americana (cidade onde morei por muitos anos) a trabalho, mas sempre há de ter uma horinha para diversão e passeio. Foi nessa horinha que eu e uma amiga resolvemos alugar bicicletas para andarmos pelo maior parque da cidade, o Rock Creek Park.

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Andamos quase 2 horas por dentro do parque, apreciamos a linda paisagem de novembro, quando não apenas a temperatura mais também as folhas começam a cair, anunciando que é outono. Algumas árvores mantém suas folhas vermelhas, laranjas, e amarelas, dando as cores características do outono, minha estação preferida na costa leste americana.

Em determinado ponto estávamos próximas ao zoológico de Washington. Sobre o zoológico de Washington eu ainda guardo a lembrança das histórias de como os animais eram mal cuidados naquele zoológico e como morriam facilmente. Lembro-me especialmente da história da morte da girafa Lionel, que aconteceu em 1998 durante um simples procedimento de corte das garras do animal. Muitas mortes ocorreram no que é conhecido como o National Zoo. Para ver a lista completa dos casos, clique aqui.

E nós queríamos sair do parque e chegar a Avenida Connecticut, para tomarmos um suco ou café. Eu já não me lembrava qual era o melhor caminho e resolvi perguntar. E eis que vem a resposta: Vocês precisam entrar no zoológico e ir subindo até achar a saída. Olhei para a minha amiga e disse: Eu não entro em zoológico! Mas a verdade é que estávamos exaustas e achamos que seria somente uma forma rápida e indolor de cortar caminho. Ok, disse, então vamos.

E lá estava eu dentro do zoológico de Washington, caminhando em companhia de minha amiga e nossas bicicletas. A primeira impressão que tive foi que para um dia de sábado lindo como aquele o zoo estava mesmo vazio. Ótimo, pensei. As pessoas estão aprendendo que zoo não é lugar nem de pessoas e nem de animais. Trilhamos os caminhos do zoo nos esquivando para não darmos de cara com nenhum animal, era o mínimo que podíamos fazer como manifestação de respeito aos animais e repúdio a este estabelecimento. Mas sem que pudéssemos evitar ali estava ele ao nosso lado. Um lobo acinzentado, cercando a cerca que o cercava, visivelmente abalado e acuado, visivelmente infeliz. Aquilo me atingiu como uma lança e pensei: Meu Deus, o que é preciso fazer para que as pessoas percebam que algo está fora da ordem? O que fazer para elas perceberam que a cena explícita a qual expõem suas crianças é uma cena cruel, de pura exploração, de exibição de poder do homem sobre o animal, de subjugação e ultimamente de pura tristeza?

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No National Zoo em Washington, como o Zoológico do Rio de Janeiro, onde muita conversa já existe para que o mesmo feche seus portões, a realidade é a mesma. Em cidades ricas ou pobres  (do Rio melhor dizer..muito pobres), zoológico é sempre um lugar triste porque por mais marketing que se faça, não há como se fugir (literalmente) da verdadeira realidade do que é o zoológico: um local onde os animais estão encarcerados para que possam ser vistos por seres humanos. O zoológico é isso.

Aí vem a história de que zoológico é importante para conservação das espécies, argumento que não me convence de forma nenhuma. Para preservar as espécies o que devemos fazer é respeitar o habitat dos animais, precisamos criar leis que devem ser respeitadas, e precisamos urgentemente educar as crianças e seus pais. E somente em último caso, podemos criar ambientes abertos onde os animais mesmo convivendo em áreas limitados possam ter uma vida com a mínima dignidade. Porque aquele leão totalmente deprimido deitado no canto da jaula não é imagem que se deva conservar por mais nenhuma geração. Precisamos revisitar essa idéia de que encarcerar um animal se justifica como ação para a conservação da espécie. Quem ama se responsabiliza (se necessário) e então liberta. E isso vale para tudo e todos!

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