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Quem são e como vivem os povos da Amazônia

Livro de contos infantis dos índios Yawanawa é lançado em aldeia

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Por Maria Fernanda Ribeiro
Atualização:

Jabutis que viviam em bandos até serem seguidos por uma onça, uma paca-de-rabo morta e uma esposa que decide se vingar, o peixe-machadinho que nasceu depois de as crianças engolirem uma concha de sopa, as crianças-grilo gulosas e como o sol foi morar tão longe.

 

 

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A obra reúne sete contos e é uma produção totalmente indígena. Escrito em português e na língua Yawanawa, o objetivo do livro é o de difundir e preservar a memória para que essas histórias possam perpetuar no tempo, além de uma tentativa de recuperar e incentivar a prática da língua nativa que entre as crianças - e também para alguns adultos - já caiu no esquecimento devido ao uso da língua portuguesa no cotidiano.

 

Segundo Tashka Yawanawa, que foi quem transcreveu as entrevistas com o pajé Tata e cuidou da organização do livro, junto com a Laura, esposa dele, assim como nós, brancos, conhecemos as histórias infantis como Chapeuzinho Vermelho e Pinóquio, as crianças Yawanawa precisam conhecer também as próprias histórias.

 

Laura e Tashka: ela ajudou a montar as oficinas com as crianças e ele foi o responsável por transcrever as entrevistas Foto: Estadão

"São contos que fazem com que as crianças sonhem com seres encantados que vivem na floresta, onde a magia e o encanto enche de cores sua imaginação. Mostram o afeto das crianças com as aves, os animais e a floresta. Elas ensinam que os jabutis , as onças, os peixes e todo ser vivo que mora na floresta são espíritos com alma e sentimento igual a gente", disse Tashka.

 

Além disso, são contos marcados por cenas trágicas porque fazem parte da cosmologia de acontecimentos marcantes da vida na floresta, que pode ser perigosa e desafiante devido ao convívio com os animais selvagens.

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 Foto: Estadão

As ilustrações foram todas feitas pelas crianças após a realização de duas oficinas de desenho que reuniu participantes de sete aldeias e contou com a participação do artista plástico goiano Kboco, que deu dicas para as crianças de cores e quais tipos de pincéis usar.

 

Durante as oficinas, as histórias foram contadas na língua Yawanawa e algumas crianças, ou muitas, precisaram da ajuda dos mais velhos para entender o que estava sendo dito. "Esse livro vai ajudar muito as crianças a conhecerem suas histórias. Eu também não conhecia a língua quando participei das oficinas e ter esses contos em português e em Yawanawa também vai ajudar muito", disse o jovem Txana, de 17 anos, um dos ilustradores.

 

No dia do lançamento do livro, um sábado de manhã, os barcos com os convidados começaram a chegar por volta das 7h30. Eu cheguei dois dias antes e acompanhei de perto a ansiedade das crianças por verem os desenhos que brotaram de sua imaginação estarem agora memorizados no papel.

 

Uma dessas crianças é o Julio, de 14 anos, que desenhou as onças e o sol em destaque na capa. Ele contou que foi a primeira vez que participou de uma oficina de ilustração e disse que esperava ansioso o momento para poder pegar o livro e ver seus desenhos registrados.

 Foto: Estadão

"Se você não escutar as nossas histórias hoje, não terá o que contar e ensinar no futuro para o seu povo e para seus filhos. Nossos antigos sempre tinham o que contar. Hoje em dia ninguém quer mais falar em nossa língua, não querem mais comer a nossa comida tradicional. Por isso temos que continuar contando a nossa história, para educar", fala o pajé Tatá na apresentação do livro.

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O livro chega numa hora sensível aos Yawanawa, pois Tatá encontra-se enfermo, numa batalha contra o câncer. No dia do lançamento, ele deixava o hospital e voltava para a sua aldeia, a Mutum, localizada algumas horas de barco da Matrinxã. E depois da festa do livro, era para lá que todos iriam para receber e afagar o grande amigo.

 Foto: Estadão

O Vakehu Shenipahu não está ainda à venda nas livrarias, mas se você quiser encomendar o seu basta escrever para a Laura nesse email aqui laurayawanawa@gmail.com que ela envia para você por R$ 49,90 mais o valor do frete. Mas não demora muito não porque nessa primeira edição foram impressos mil exemplares e muitos deles já estão nas mãos dos professores e alunos das aldeias. E um em minhas mãos, é claro.

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