Foto do(a) blog

Reflexões ambientais

UMA (BREVE) REFLEXÃO AMBIENTAL IMPERTINENTE.

PUBLICIDADE

Por Dener Giovanini
Atualização:

No início eram as trevas. Então o Criador separou a luz da escuridão. Pôs de um lado os ecologistas e, nas sombras, os bestiais capitalistas. Desde então, cientes de sua "missão divina", os ambientalistas entregam-se a cotidiana batalha para livrar o mundo das iniquidades produtivas. Para um desavisado ? ou um não iniciado ? é assim que se mostra o movimento ambiental. Ou pelo menos, é dessa forma que muitos ambientalistas querem ser vistos: os salvadores da humanidade. A milenar história das religiões não foi o suficiente para promover o consenso sobre as diferenças entre o sagrado e o profano. E no enredo ambiental não é diferente, com o agravante de, ao invés de milhares de anos, termos apenas algumas poucas décadas de consciência ambiental mais apurada. A verdade é que o movimento ambientalista mundial está fracassando. Fora algumas pequenas conquistas e vitórias aqui e ali, amplificadas para estimularem o fluxo monetário de algumas ONGs, o quadro geral está ruim, muito ruim. Ele ainda é incapaz de oferecer respostas convincentes e viáveis, sobre o caminho que a humanidade deve seguir, para manter um mínimo de harmonia entre a necessidade de desenvolvimento e o compromisso que precisamos ter com a manutenção dos recursos naturais. Essa é uma constatação desagradável de se ouvir, ou no caso, de se ler. Porém, ela reflete apenas o que os fatos comprovam. No Brasil, por exemplo, fomos incapazes de evitar o quase desaparecimento da Mata Atlântica, apesar da existência  de inúmeras ONGs que a ?defendem?. Estou errado nessa constatação? Alguém já ouviu alguma notícia informando sobre alguma queda, por menor que fosse, do desmatamento da Mata Atlântica? Penso que não. O que vemos anualmente é a divulgação de números que comprovam o que acabei de escrever: da Mata Atlântica original restam pouco mais de 6%. E continua diminuindo ano após ano. Provavelmente irá surgir algum leitor que dirá: mas se não fossem as ONGs a situação estaria muito pior!E a ele respondei: concordo! Graças as ONGs ambientais ganharemos mais alguns anos na UTI, mas em nada muda o diagnóstico inicial de estado terminal do paciente. E agora estamos permitindo que o mesmo ocorra com o Cerrado.A diferença é que neste bioma o ritmo da destruição está muito mais acelerado e não temos mais exploradores portugueses para jogar a culpa. Um dos problemas é que uma considerável parte das organizações ambientais sofre de daltonismo ambiental. Enxergam nas ?questões verdes? o vermelho de um ideologismo arcaico. Grande parte do ambientalismo nacional forjou sua visão com a ajuda da foice e do martelo ? inspirados no movimento de 1968 ? e pouco evoluiu desde então. Muitos ecologistas ainda recheiam seus discursos com expressões típicas dos estudantes revoltosos de Paris. Tratam dos temas ambientais sob a ótica do ideal revolucionário e, por isso, sempre caem na contradição de suas práticas. Um exemplo típico são os ecologistas ?libertários? que fingem não ver a degradação ambiental causada pelo Movimento dos Sem Terra ? MST ou pelos assentamentos do INCRA. Ao lado dos ?Biocompanheiros? marcham os ?EcoHippes?. Esses últimos, mesmo livres da contaminação ideológica, só conseguem ter uma percepção romântica do mundo. O seu amor incondicional a toda forma de vida ? e aos duendes ? os transformam em perfeitos personagens do exército imaginário de Brancaleone, majestosamente retratado pelo cineasta Monicelli. Meu objetivo neste breve artigo não é fazer uma classificação biológica das espécies que pertencem ao ?Reino Ambientalista?, até por que o espaço não permitiria e muitas espécies importantes seriam desconsideradas, como os Biodesagradáveis. Também não pretendo desqualificar ou desmerecer nenhuma das espécies acima citadas, até por que, dediquei mais da metade da minha vida a causa ambiental e já tive a oportunidade de também merecer diversas classificações. Meu intento é motivar o aprofundamento do debate ambiental e fazer um alerta sobre a importância do momento histórico que vivemos. Chegou a hora de definirmos quais os caminhos que vamos seguir daqui em diante. A inconsistência ? ou falta ? das soluções apresentadas pelo movimento ambientalista contribui, decisivamente, para aumentar a fornalha diabólica dos maus intencionados. A distensão entre o setor produtivo e os movimentos sociais nunca esteve tão evidente. Vivemos tempos em que não existe diálogo capaz de criar e fortalecer o entendimento, que se faz tão necessário para posicionarmos o Brasil no cenário internacional como uma nação economicamente viável e sócioambientalmente (palavrinha perigosa) responsável. Posso afirmar também, com toda certeza e conhecimento de causa, que uma grande parte das empresas que estampam expressões do tipo ?sustentabilidade? ou ?responsabilidade ambiental? em suas peças publicitárias, o fazem de forma irresponsável, mentirosa e, o mais grave, leviana. Não passam de embustes de marketing para aproveitar uma oportunidade de mercado. Um exemplo simples e didático dessa categoria nefasta do setor produtivo são os hotéis. Quem já não se deparou com aquele adesivo no banheiro, quase implorando ao hóspede, que reutilize sua toalha? Diz o tal adesivo que o hotel, ?preocupado com a conservação das águas?, quer evitar lavar a sua toalha para poupar o meio ambiente dos rejeitos químicos das lavanderias. Pura ecoenganação!  O que eles querem na verdade é apenas eliminar despesas por conta da economia feita pelo hóspede e dão a isso o nome de responsabilidade ambiental.  Sempre que encontro os tais adesivos faço questão de escrever neles uma frase simples e objetiva: caro hóspede, pergunte ao gerente desse hotel onde eles investem o dinheiro que você economiza com a sua boa intenção! E o exemplo dos hotéis é praticamente uma brincadeira infantil perto das artimanhas criadas pelos departamentos de marketing de algumas grandes empresas. O fato é que o ?jogo de cena? precisa acabar. Os ambientalistas devem refletir e reconsiderar algumas das suas posições pré-históricas e, as empresas, tem que adotar uma postura coerente com a realidade. Não podemos mais fingir que os nossos esforços tem sido exitosos, por que não o são. Não podemos mais conviver com os pecados da gula e da avareza com relação aos nossos recursos naturais. No limbo da ignorância e da insensatez dormem algumas das boas intenções de Deus e do diabo, ou melhor, daqueles ecologistas e empresários que se utilizam da causa ambiental apenas para satisfazer seus egos ? no caso dos primeiros ? ou acumular dinheiro à custa da apropriação indevida do lema ambiental, no caso dos segundos. É hora de mudar. Ou vamos encarar um futuro onde as bestas do Apocalipse sentirão vergonha das suas pragas menores. Conseguiremos? Eis o mistério da Fé!

Autorizada a publicação e divulgação desde que citada a fonte.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.