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Reflexões ambientais

De quem é a culpa pela morte de Harambe?

Por Dener Giovanini
Atualização:

No último fim de semana, a morte do gorila Harambe, que vivia no zoológico de Cincinnati, nos Estados Unidos, provocou comoção e indignação em várias partes do mundo. O belo animal, com mais de 200 kg foi abatido a tiros, após uma criança cair em seu recinto e, em poucos minutos, o fato ganhou as redes sociais. Logo começaram a surgir comentários e acusações desprovidas de qualquer fundamento técnico sobre o ocorrido. Uma multidão se pôs a acusar o zoológico pela decisão de sacrificar o animal e algumas ONGs extremistas enxergaram na situação uma grande oportunidade para alimentar o seu discurso contra os zoos. Uma petição na internet pede a prisão dos pais da criança por negligência e já conta com quase 400 mil assinaturas. Quando a emoção é grande a razão se acanha e poucos foram os que trataram o fato como ele é: um acidente. Um lamentável acidente.

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O recinto onde estava Harambe foi inaugurado em 1978. Durante 38 anos nenhum incidente havia ocorrido. O Zoológico de Cincinnati desenvolve um importante trabalho de pesquisa e conservação dos gorilas, particularmente os da espécie de Harambe, conhecida como a dos gorilas das planícies ocidentais. Essa espécie está ameaçada de extinção, principalmente no Congo, onde a caça ilegal e a perda de habitat são ameaças constantes. A escolha de abater o animal deve ter sido umas das mais difíceis para a equipe do zoológico. Mas diante das circunstâncias e do imediatismo que a situação requeria, não existiam muitas escolhas. Sedar o animal seria impossível pois, além de demorar a fazer efeito, a ação sedativa poderia fazer o gorila perder o controle e machucar seriamente a criança. Outras alternativas, como o uso de redes, também se mostravam inviáveis devido ao grande tamanho do recinto e pela constante movimentação do animal naquele momento.

A situação se tornou mais ainda dramática quando imagens gravadas em vídeo começaram a circular na internet. Em uma delas, como o leitor poderá ver abaixo, Harambe parece um ser muito mais assustado com o barulho provocado pelos gritos dos que lá estavam, do que propriamente um animal agressivo. Apesar de Harambe ter arrastado o menino pelo recinto, sua atitude não parecia ser ameaçadora ao ponto de colocar a vida da criança em risco.

https://youtu.be/Py_1aCt2c0s

Tomar uma decisão de atirar em Harambe naquele momento, como dito, deve ter sido muito difícil, principalmente porque aquela espécie, em especial, era uma grande motivação e orgulho de toda a equipe do zoológico de Cincinnati.

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No caso dos pais da criança, eles deveriam estar mais atentos, sem dúvidas. Mas seriam eles seres tão cruéis ao ponto de não se importarem com a vida de um filho? Quantos pais e mães já não passaram por situações semelhantes, onde, apesar de toda a atenção, num breve segundo de distração, o pior acontece? Seriam esses pais merecedores das ameaças de morte e de todas as condenações do mundo virtual?

Como dito anteriormente, a razão acanhada abre espaço para todo o tipo de julgamento, desde aquele mais frio, raso e imediato, até aquele que nos desqualifica como seres racionais.

Um caso semelhante aconteceu recentemente num zoológico no Chile, onde leões tiveram que ser sacrificados depois que um homem invadiu o recinto, numa tentativa de suicídio. Mais uma vez, poucos foram aqueles que se perguntaram as razões que levaram o jovem a um ato tão desesperado. Muitos foram os que acusaram impiedosamente a família do rapaz e outros tantos foram os que tentaram, mais uma vez, se aproveitar de uma tragédia para faturar no discurso.

Tanto a triste morte de Harambe, quanto a dos leões do Chile, são acidentes trágicos. Acidentes que requerem o máximo esforço para que não voltem mais a acontecer. Tentar desacreditar os importantes trabalhos de conservação, que instituições como os zoos de Cincinnati e Santiago realizam é uma demonstração de falta de informação. Ou má fé.

Foto AP 
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