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Reflexões ambientais

ALABÊ DE JERUSALEM

Por Dener Giovanini
Atualização:

Ano passado tive a honra de ser recebido por Altay Veloso em sua casa, no Rio de Janeiro. Foram horas de um imenso aprendizado com esse que é, sem dúvida nenhuma, um dos maiores compositores da cultura brasileira. A obra de Altay é vasta e rica. Suas canções foram gravadas por inúmeros artistas, como Roberto Carlos, Fagner e Zizi Posse. Mas a maior obra de Altay, infelizmente, ainda é desconhecida pela grande maioria da população brasileira: a Ópera Alabê de Jerusalém. Sim, leitor. Uma ópera. Uma ópera completa, linda e que conta uma história envolvente, passada a dois mil anos atrás. Alabê de Jerusalém foi encenada poucas vezes no Brasil. Mesmo reunindo nomes de peso da MPB, como Elba Ramalho, Fafá de Belém, Alcione, Lenine, Bibi Ferreira, Jorge Aragão e Ivan Lins, entre outros, Altay não consegue patrocínio para levá-la novamente a público. Fafá de Belém disse que se Altay tivesse nascido norte-americano, sua ópera seria um dos maiores sucessos da Broadway. E ele estaria rico, muito rico. Como não é o caso, Altay luta diariamente para conseguir o seu sustento e continua na batalha para levar de volta aos palcos a sua grande obra. Mas, deve estar se perguntando o nobre leitor: o que uma ópera está fazendo num blog ambiental? Respondo com um trechinho da ópera de Altay: Ah, meu Deus! Assisto com muita tristeza a pena da aspereza dilacerando a beleza de uma linda sinfonia. A aguarrás de juizes, ciumentos inflexíveis, descolorindo as matizes de uma linda pintura, só porque não gostam da assinatura" E vai com uma bailarina, com a inocência de menina, dançando em volta do sol, a Grande Mãe Terra. Enquanto muitas nações, governos, religiões ensaiam a dança da guerra. Na verdade a bola azul quase nunca foi amada; é sempre penalizada. Tem um trabalho enorme, dedicação e talento para preparar a mistura, juntar os seus elementos para dar forma às criaturas, e elas, depois de paridas, desconhecem a matriarca e dizem, mal agradecidas: que a carne é fraca. Olha, eu vou dizer na minha simples observação: dia após dia, me perdoem a liberdade, mas religião de verdade, mais parecida com a que Jesus queria, talvez seja sentimento de ecologia. Para esse sentimento não tem fronteiras e só reza um mandamento: preservação das espécies com urgência, sem adiamento. Hoje, ela pensa nas plantas, nos rios, no mar, nos bichos. Amanhã, com certeza, com a mesma dedicação e capricho, pensará com muito cuidado nos meninos abandonados. Ah, se ela tivesse mais força para sustentar sua zanga, evitaria, com certeza a fome cruel de Ruanda. Ainda era uma menina, quando a impertinência sangrou, com a bola de fogo, a pobre Hiroshima. Mas ela cresce, se instala como uma prece no coração das crianças. Tenho muitas esperanças... Eu tenho toda a certeza que nosso planeta um dia, mesmo cansado, exausto, terá toda a garantia e guardado por uma geração vigia, nunca mais verá a espada fria no Holocausto. Alabê é uma exaltação a conservação da natureza e uma tremenda lição de respeito a vida. Só por sua riqueza cultural já merecia estar entre os materiais didáticos distribuídos pelo MEC às escolas. A sua mensagem ambiental, importantíssima, só reforça o seu valor. Mas como quase tudo que presta nesse país, é relegada ao esquecimento. Enquanto isso sobram recursos para sindicatos promoverem shows grandiosos no Dia do Trabalhador ou para peças teatrais que contem com a participação de alguma neta de Lula. Para quem tiver a curiosidade de conhecer um pouco da ópera Alabê de Jerusalém, é só assistir o vídeo abaixo: Deixo aqui também um vídeo sobre os bastidores da gravação da ópera em estúdio. É impressionante como os artistas, sensíveis que são, se emocionam ao interpretar as canções de Altay Veloso. Gostaria muito que os leitores do blog ajudassem a divulgar essa que é uma das maiores obras da nossa cultura e que, com certeza, nos orgulha como brasileiros.      

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