A pequena Coron é uma das mais de sete mil ilhas da Filipinas. Mas a única a abrigar os cerca de 2000 remanescentes do povo Tagbanua, que no dialeto local significa, o povo das águas.
Donos de uma das consideradas mais belas ilhas do planeta, com lagoas de água transparente, dezenas de pequenas praias cercadas por falésias rochosas, areia branca e coloridos arrecifes de corais, os Tagbanua administram pessoalmente o fluxo de turistas.
Eles moram em duas vilas no lado norte da ilha, territórios proibidos para turistas, distante duas horas de barco da vizinha ilha de Busuanga, onde os forasteiros, como nós, costumam ficar hospedados.
Depois de muito rodar em Busuanga, finalmente conseguimos achar e convencer o líder da comunidade, Rodolfo Aguilar, a nos levar para a vila de Cabugao, a maior delas.
Logo cedinho, fui com o Rodolfo no mercado comprar betelnut para presentear aos anciões e uma bola de basquete para a juventude. Depois entramos com Rodolfo numa pequena bangka, o tipo de embarcação local, e partimos.
Ao chegar em Cabugao não acreditamos na beleza e isolamento do lugar. O cenário parecia do filme do King Kong, de tão selvagem.
Os Tagbanua vivem da pesca, da roça e, principalmente, da lucrativa coleta de ninhos de andorinha, que nidificam nos altos penhascos de Coron.
Depois da coleta, os ninhos são vendido à China, onde a iguaria é conhecida (em inglês) como the Bird Nest Soup.
As crianças de Cabugao são muito amorosas. Queriam todas brincar com a pequena Luisa, que adorou a companhia.
Vivendo num mundo sem energia elétrica, sem TV, nem internet, elas inventam formas divertidas de brincar. Algumas são simples como trepar em árvores.
A mais legal de todas foi a guerra de tampinhas. Para fazer o brinquedo eles batem com um martelo numa tampinha de refrigerante, achatando-a. Depois fazem um furo no meio, passam um novelo de lã pelo furo, enrolam a linha e combatem.
O Tiago aprendeu a fazer o brinquedo e participou de animados combates com a criançada local.
Além de brincar, a criançada ajuda bastante seus familiares no cotidiano, indo cedinho coletar caranguejos no mangue, ou saindo para pescar .
A ilha de Coron poderia ser mais uma das Filipinas entregue aos grandes conglomerados do turismo. Mas graças a luta de Rodolfo Aguilar, espécie de herói, foi reconhecida como do povo Tagbanua.
"Esta proteção é para conservar nossa cultura" diz Rodolfo Aguilar, que aponta. "Veja a liberdade e felicidade de nossas crianças. Olhe a pureza da nossa água, do ar. E eles têm orgulho de nossa cultura."
Se a natureza dependesse do exemplo dos Tagbanuas, nossas crianças iriam brincar num mar sempre limpinho e cheio de peixes. Eles são mesmo o povo das águas.