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Pesquisador quer montar programa para reintrodução de bugios no Horto

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Por Giovana Girardi
Atualização:
Há 5 famílias da macacos bugios que estão resguardadas no departamento de áreas verdes Foto: Sebastião Moreira/Estadão

O pesquisador Marcio Port-Carvalho, chefe da sessão de animais silvestres do Instituto Florestal, se habituou, em seus 13 anos vivendo dentro do Horto Florestal de São Paulo, a encerrar o dia ouvindo a vocalização de bugios antes de eles dormirem.

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Em meados de outubro do ano passado, esse som começou a desaparecer. No final do ano, já era só silêncio. "Todos morreram no Horto: 86 animais. Quase 80% deles (67) nós encontramos os corpos. No corredor que liga com o Parque Estadual da Cantareira, onde vai para a Pedra Branca, também os bichos morreram. Esse vírus é uma praga", diz em referência ao vírus da febre amarela, que chegou a região norte de São Paulo provavelmente via Mairiporã, após ter entrado no Estado por Minas, em abril de 2016.

"A gente conhecia todos os grupos que viviam por aqui, víamos todos os dias, eles até tinham nome, acompanhamos a morte de todos", conta.

A primeira morte foi o alerta para que tivesse início uma vacinação em massa na cidade de São Paulo. Desde então, 1,3 milhão de pessoas receberam a vacina. Para os animais, a proteção, porém, não existe.

"Muita gente nos perguntou hoje por que não fizemos alguma coisa, não tiramos os bichos de lá. Mas uma vez que o vírus está no local, não tem muito o que fazer. Ele é super difícil de capturar. Anda a 20 metros de altura, não entra em armadilha. E mesmo se pegássemos, não teria para onde levar, não tem recurso para isso", desabafa. "A solução é a saída que foi adotada mesmo - vacinar os seres humanos, diminuir a circulação viral."

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O trabalho de monitoramento da fauna foi realizado no Horto, que tem apenas 179 hectares de área. Mas o pesquisador diz não conseguir nem estimar o impacto que o vírus pode ter tido sobre a população do Parque da Cantareira, contíguo ao horto, mas muito maior - são 8 mil hectares de área. Lá havia uma estimativa, referente a 2007, de viverem cerca de 4 mil bugios.

Neste momento, Port afirma que não há muito mais o que fazer, além de esperar o controle da epidemia. Tentar colocar animais de volta ao parque é condená-los à morte. Mas para o futuro, a ideia é, sim, fazer a reintrodução de famílias.

No Departamento de Áreas Verdes da capital há pelo menos 22 animais, de cinco famílias, que poderão vir a passar por um processo de reintrodução à natureza. São indivíduos que vieram dos parques da região norte e por algum motivo foram feridos e tiveram de ir para reabilitação.

"Quero fazer um programa com a estratégia de fazer um reforço populacional, introduzir grupinhos de cativeiro. Mas eles terão de aprender a viver de novo em natureza, e teremos de monitorar diariamente para ver se está dando certo. Isso vai custar dinheiro, mas é a saída."

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