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Emissões globais de gás carbônico devem ter alta de 2% em 2017

Alta ocorre após período de três anos de relativa estabilidade, quando se acreditava que as emissões poderiam ter chegado a um pico e começariam a decrescer

Por Giovana Girardi
Atualização:
Gráfico mostra projeção de emissões dos quatro principais emissores e do resto do mundo Foto: Estadão

BONN - Após três anos de estabilidade, as emissões globais de dióxido de carbono (CO?) devem voltar a subir neste ano. A expectativa é que o ano feche com uma alta de 2% das emissões provenientes de queima de combustíveis fósseis e da indústria em relação ao ano anterior.

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O dado faz parte de levantamento anual feito pelo Global Carbon Project e foi divulgado na manhã desta segunda-feira, 13, na Conferência do Clima da ONU, que é realizada em Bonn (Alemanha).

O número traz uma má notícia para o início da segunda semana de negociações porque se imaginava que talvez o mundo já tivesse alcançado seu pico de emissões. A indicação vinha dos três últimos anos, em que o nível de emissões se manteve relativamente estável mesmo diante de crescimento econômico em nível global, o que parecia um bom sinal em direção ao Acordo de Paris, explica Glen Peters, um dos líderes do estudo.

Mas agora a alta esperada é de 2%, um novo recorde. Há algumas incertezas em relação a esse valor porque o ano ainda não fechou, podendo variar de algo entre 0,8% e 3%. "Seja como for, temos bastante certeza de as emissões vão crescer em 2017", diz Peters. "Isso mostra que precisamos de política que consigam garantir os ganhos que tivemos nos últimos anos para as emissões voltarem a ficar estáveis e então voltarem a cair", complementa.

O principal responsável é a China, onde os pesquisadores calculam que as emissões voltaram a crescer em torno de 3,5% neste ano. Os resultados globais vistos nos três anos anteriores se deveram exatamente ao fato de que China havia apresentado uma queda na queima de carvão nos últimos dois anos, investindo mais em renováveis.

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Também contribuiu o fato de ter chegado ao fim uma era de muito crescimento. Na primeira década dos anos 2000 o país teve um rápido impulso em suas emissões, chegando a 10% ao ano, em parte promovido pelo boom nas construções no país, que demandavam muito cimento e aço. Quando essas construções terminaram, as emissões estabilizaram.

Neste ano o cenário se inverteu. No final do ano passado, o governo anunciou um novo ciclo de crescimento. Por outro lado, menos chuvas levaram a uma redução do uso de hidrelétricas e houve uma retomada do uso do carvão como principal fonte de energia no país. Sozinha, a China responde por 28% das emissões do mundo, que devem fechar 2017 em 41 bilhões de toneladas de CO?. Índia também está ajudando na retomada global. Lá, ao contrário da China, não houve queda recente. Na década, o crescimento visto no país foi de 6%.

Peters também destacou que a economia global está crescendo em torno de 3,4% ao ano, o que vai demandar medidas extras para conter a retomada do aumento das emissões. "Nos últimos anos, o crescimento econômico foi de certo modo compensado pela melhoria em eficiência energética, na intensidade de carbono da economia - ou seja, quanto emite de carbono por unidade gerada - e investimento em renováveis. Mas a economia deve continuar crescendo em torno de 4%, então só isso não vai ser suficiente. Vamos realmente precisar de políticas fortes para derrubar as emissões."

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"Hoje temos 22 países em que as concentrações estão caindo há uma década, mesmo com crescimento de PIB. Representam apenas 20% das emissões globais, então ainda não têm impacto no todo, mas demonstra que é possível e está acontecendo. Reino Unido, França, Suécia são parte desse grupo", afirma Corine Le Quéré, do Centro Tyndall de Pesquisa em Mudança Climática da Universidade East Anglia e líder do trabalho.

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Brasil. O Brasil aparece no trabalho do Global Carbon Project com emissões em queda, atribuídas à crise econômica - e não a ações de descarbonização da economia. O estudo, porém, só considera as emissões do setor energético e não as de desmatamento, atualmente, e historicamente, nossa principal fonte de CO2.

Análises nacionais do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg), do Observatório do Clima, apontam um cenário oposto por causa disso. Em 2016, as emissões brasileiras subiram 9% em decorrência do aumento de 27% na taxa do desmatamento entre agosto de 2015 e julho de 2016, na comparação com o período anterior. De acordo com o Seeg 2016, o ano passado, porém, o Brasil de fato teve uma redução de 7,3% nas emissões de energia. A conclusão bate com a do estudo estrangeiro: isso só ocorreu por causa da crise. Os dados relativos a 2017 só serão divulgados no ano que vem.

* A repórter viaja como bolsista do fellowship Climate Change Media Partnership

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