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Cientistas contam com o papa para falar ao coração das pessoas

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Por Giovana Girardi
Atualização:
Francisco afirma que humanos estão causando mudanças climáticas e que falta de ações trará graves consequências Foto: Estadão

A nova encíclica papal - cujo rascunho vazou na internet hoje - vinha sendo ansiosamente aguardada nos Estados Unidos por uma categoria que ao longo da história quase nunca viu com bons olhos a interferência da religião: a comunidade científica. Mas após tantos anos enfrentando uma dura batalha contra a opinião pública, pesquisadores das mudanças climáticas estão quase dando "graças a Deus" por ter uma figura carismática e forte como papa Francisco falando sobre assuntos que para eles nem sempre são tão fáceis.

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"Quão bizarro é ter os cientistas mal podendo conter a ansiedade por um pronunciamento papal sobre uma questão que concerne à ciência, à cultura e à sociedade? Isso é uma inversão de eventos muito irônica que mostra como a política nos EUA está paralisada", comentou ao Estado a historiadora da ciência da Universidade de Harvard Naomi Oreskes. Ela preferiu não ler o material vazado pela revista L'Espresso, mas comentou sobre os ânimos da academia.

"Cientistas são cientistas e eles não sabem como falar sobre questões culturais e morais. Não são treinados para fazer isso, não se sentem confortáveis fazendo isso. Eles falam em termos científicos: quantos graus celsius de aquecimento, quantos milímetros por década de aumento do nível do mar, mas isso não é uma maneira de falar ao coração das pessoas, de colocar o problema de uma maneira pessoal, emocional, econômica e social. O que o papa está fazendo vai muito além disso, porque ele está colocando em termos morais ao dizer que o que está acontecendo é uma injustiça. É algo que os cientistas não conseguem dizer, mesmo eles sabendo isso e seja algo com o qual eles se preocupam. E agora eles têm o papa para falar nesses termos", avalia a pesquisadora.

Meses antes de ser lançada, a encíclica já estava presente em diversas discussões de cientistas do clima presenciadas pela reportagem em universidades como Harvard e MIT. Há uma certa esperança no ar de que a encíclica pode virar o jogo ou ao menos causar um certo constrangimento entre aqueles que insistem em negar que seja necessário tomar ações agora, como ocorre com boa parte dos republicanos dos EUA, muitos deles católicos.

"É possível que a encíclica tenha um impacto na opinião pública", afirma Anthony Leiserowitz, diretor do Projeto de Yale em Comunicação sobre Mudanças Climáticas - grupo que faz pesquisas justamente para avaliar como os americanos vêm encarando a questão. "As pessoas o vêem como um mensageiro altamente confiável, respeitado e admirado que está transmitindo uma mensagem clara de que o aquecimento global é uma ameaça grave. E ele está fazendo isso através de um conjunto muito poderoso de canais (um monte de cobertura da mídia) a um conjunto de audiências americanas e internacionais que são receptivas a essa mensagem."

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No mínimo, o papa Francisco vai fazer as pessoas falaram bastante sobre o assunto com uma nova perspectiva que vai além da ciência e das picuinhas políticas. Mas se a discussão vai durar o bastante para influenciar a Conferência do Clima em Paris, no final do ano, ou as eleições americanas no ano que vem é difícil de prever.

Leia mais: Vídeo que põe papa como herói na luta contra as mudanças climáticas é vetado nos EUA

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